73% da população é contra garimpo em terra indígena, aponta Datafolha

LUCAS LACERDA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A maioria da população brasileira rejeita o garimpo em terras indígenas e acha que a atividade é a principal responsável pela morte de pessoas no território yanomami.

Ainda, três em cada quatro brasileiros concordam que a Justiça deve punir empresários que lucram com o ouro ilegal e liberar os garimpeiros.

Por outro lado, 79% acham que os indígenas deveriam desenvolver atividades econômicas para não dependerem de recursos do governo.

É o que aponta pesquisa recente do Datafolha sobre os três primeiros meses do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT. O levantamento ouviu 2.028 pessoas de 126 municípios com mais de 16 anos nos dias 29 e 30 de março deste ano. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

A opinião contrária à atividade garimpeira em terras indígenas já havia sido maioria -em maior número-em pesquisa anterior do Datafolha sobre o tema. Em 2019, 86% dos brasileiros rejeitaram a permissão de mineração nos territórios, contra os 73% que discordaram da afirmação agora. 24% são favoráveis, 2% não sabem e 1% não concorda e nem discorda.

Entre os 75% que acham que a Justiça deve punir os empresários que lucram com o garimpo e liberar garimpeiros, 57% concordam totalmente.

As discordâncias são mais perceptíveis entre empresários: 36% acham que o governo deveria permitir atividade garimpeira em terras indígenas -12 pontos percentuais mais que o total da população. Sobre o garimpo ser a principal causa de mortes de indígenas, eles se distanciam do total, e apenas 49% concordam com a afirmação (no geral, 70% concordam).

Chamam a atenção as opiniões de quem prefere o PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, e de quem declarou voto nele no segundo turno das eleições presidenciais. 65% do primeiro grupo discordam da afirmação “governo deveria permitir o garimpo em terras indígenas”, número que sobe para 71% no segundo.

Isso porque o estímulo à atividade foi uma das principais bandeiras do governo Bolsonaro. Foi a gestão do ex-presidente que deu aval inédito a duas lavras para exploração de garimpo em área próxima da TI Yanomami, em Roraima, no ano passado.
No início do ano, o governo Lula decretou estado de emergência sanitária no território yanomami. Com o avanço do garimpo, segundo relatórios de associações de povos indígenas, houve uma explosão de desnutrição e malária na região.

Para Márcio Santilli, sócio-fundador do Instituto Socioambiental, a discordância entre o público que prefere o PL e votou em Bolsonaro indica que a questão do garimpo não define voto.

“A pessoa se identifica com Bolsonaro por outra questão que considera central, porque o garimpo é uma coisa remota, já que a maioria das pessoas não vive nessas regiões”, diz Santilli. “Assim como a gente tem pessoas que são favoráveis ao garimpo e votam no Lula.”

Sobre as punições a empresários e a liberação de garimpeiros, ele afirma que pode haver um sentimento geral de justiça. “É algo que pode ser naturalizado pelas pessoas por causa de desemprego: põem a culpa não na pessoa, mas numa situação social que faria com que essa pessoa não tenha opção.”

A opinião sobre o garimpo como causa de morte entre indígenas, no entanto, é a que mais divide apoiadores de PT e PL e quem votou em Lula ou Bolsonaro. Mas a maioria prevalece: 57% dos que preferem o PL concordam com a afirmação, e o número sobe para 60% entre quem declarou voto no segundo turno para o ex-presidente.

Já entre petistas, o número é de 79%, um ponto percentual a mais do que quem votou em Lula.

O apoio à ideia de atividades para que indígenas gerem renda é mais frequente entre pessoas com mais de 60 anos. 87% concordam com a afirmação, e 64% concordam totalmente, contra 55% da média total. Santilli afirma que opiniões favoráveis à afirmação podem revelar desconhecimento sobre como funcionam as produções e o trabalho em comunidades indígenas.

“Essa questão se coloca muito para quem vê a situação de longe. Não acho que quem recebe dinheiro do governo seja muito mais frequente do que outros grupos de população que também recebem esses benefícios”, afirma. “A não ser em lugares fortemente desestruturados, como é o caso das aldeias de yanomamis, em que a economia foi destroçada. Não tem peixe, não tem roça e malária o tempo inteiro, não conseguem trabalhar nas roças”.

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