PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Se a organização dos Jogos de Paris gosta de citar a ParalimpĂada como o segundo tempo do grande evento esportivo, Ă© possĂvel dizer que teremos uma substituição relevante: sai o rio Sena, entra a avenida Champs ElysĂ©es.
“Dizem aqui que Ă© a avenida mais bonita do mundo. Se Ă© verdade, nĂŁo sei, mas Ă© o que dizem aqui”, desconversa, sem querer se comprometer, Thomas Jolly, o mesmo diretor artĂstico que deu o que falar ao ser acusado de parodiar “A Ăšltima Ceia” na abertura olĂmpica.
Assim como aconteceu com a OlimpĂada, há pouco mais de um mĂŞs, a abertura da ParalimpĂada tambĂ©m vai fugir do usual, em um estádio, para se inserir a outro cartĂŁo-postal conhecido de Paris.
Na cerimĂ´nia da ParalimpĂada, marcada para começar Ă s 20h (15h, horário de BrasĂlia) desta quarta-feira (28), os 4.400 atletas de 168 delegações vĂŁo desfilar na Champs-ElysĂ©es em direção Ă Place de la Concorde, com o Arco do Triunfo Ă s costas.
“É interessante porque na mitologia ‘Elysium’ Ă© onde estĂŁo os herĂłis. E aqui, os paratletas sĂŁo os herĂłis”, conta Jolly. “AlĂ©m disso, a Place de la Concorde Ă© um lugar muito importante. Espero que seja menos sangrento, porque foi nela que cortamos as cabeças do rei e da rainha”, provoca.
O diretor teatral espera tocar o pĂşblico com outro tipo de cerimĂ´nia. “Nesta noite, talvez possamos mudar a forma como a sociedade olha para as pessoas com deficiĂŞncia. E isso Ă© muito importante para mim.”
Durante os Jogos OlĂmpicos, a Place de la Concorde, ou Praça da ConcĂłrdia, transformou-se em um parque urbano e foi um dos principais cartões-postais da competição, ao abrigar as modalidades de skate, ciclismo BMX, basquete 3×3 e breaking.
Para a alegria de quem aguarda para ver o evento ao vivo, há poucas possibilidades de chuva, de acordo com a previsão do tempo para a capital francesa. Espera-se ainda uma cerimônia mais curta do que as quatro horas do chuvoso espetáculo do dia 26 de julho.
PorĂ©m, tanto os fĂŁs quanto os detratores da abertura olĂmpica nĂŁo terĂŁo uma espĂ©cie de continuação do que foi visto Ă s margens do Sena, cheio de referĂŞncias histĂłricas da França. “Cada cerimĂ´nia tem seu prĂłprio contexto e conteĂşdo. Aqui, o mais importante Ă© falar sobre deficiĂŞncia, sobre como vamos viver juntos e sobre todos os esforços polĂticos que todos devem fazer para que haja uma uniĂŁo melhor com todos”, conta o diretor.
Jolly prefere manter o clima de mistĂ©rio em torno do roteiro da festa. “Segredos sĂŁo o que criam emoção para um desfile. EntĂŁo, nĂŁo vou te contar nada agora”, disse Ă reportagem. “Mas venha ver a cerimĂ´nia e vocĂŞ vai se surpreender. Espero que seja uma grande celebração”, completa.
A delegação brasileira terá sua maior representação paralĂmpica depois dos Jogos do Rio-2016, com 255 paratletas –alĂ©m deles, outros 25 atletas sem deficiĂŞncia participam da competição: 19 atletas-guia; trĂŞs calheiros da bocha; dois goleiros do futebol de cegos; e um timoneiro do remo.
Beth Gomes, do atletismo, e Gabriel Araújo, da natação, serão os porta-bandeiras do Time Brasil. Ouro no lançamento de disco na classe F53 em Tóquio-2020, Beth tenta repetir o feito, agora na F54. A paratleta de 59 anos foi diagnosticada com esclerose múltipla em 1993.
“Vou honrar a nossa bandeira com a maior maestria e representar todos os atletas paralĂmpicos que estĂŁo em Paris e aqueles que sonham em um dia estar aqui, porque sonhos sĂŁo para ser realizados. Estou aqui por vocĂŞs e por todos.”
Já Gabrielzinho não terá muito tempo para a festa. Ele já compete na quinta (29) e disputa medalha nos 100 m costas, prova em que ganhou a medalha de prata em Tóquio –além de outros dois ouros.
Apesar da agenda corrida, Gabrielzinho nĂŁo esconde o desejo de estar na festa de abertura. “Para mim [participar da cerimĂ´nia] nĂŁo Ă© um problema”, diz o brasileiro de 22 anos, da categoria S2, que vai participar de cinco provas nas piscinas da Arena La DĂ©fense e Ă© candidato a conquistar o primeiro ouro do Brasil na ParalimpĂada de Paris.
“NĂŁo tive a oportunidade de ir na abertura de TĂłquio”, diz, lembrando da cerimĂ´nia restrita por conta da Covid-19. “A cerimĂ´nia em si já Ă© um momento Ăşnico, e ainda mais agora com essa oportunidade [de ser porta-bandeira], foi um convite irrecusável, mas já está tudo no planejamento”, conclui confiante.