WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – O Brasil fez uma concessão ao governo americano e fará uma condenação mais dura à Rússia no comunicado conjunto dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Joe Biden.
Inicialmente, o texto não condenava diretamente a Rússia pela Guerra da Ucrânia, após objeção dos negociadores brasileiros a uma linguagem mais específica sobre a agressão de Moscou. A declaração falava apenas sobre a cooperação entre Brasil e EUA para discutir questões regionais e globais, inclusive o conflito no Leste Europeu.
Mas o governo brasileiro cedeu à pressão dos EUA e aceitou ter uma declaração que condena nominalmente a Rússia pela violação territorial na Ucrânia, pelo desrespeito ao direito internacional e perdas de vidas e de infraestrutura essencial, além de falar sobre os efeitos do conflito sobre a economia mundial e a fome.
A linguagem é semelhante à adotada no comunicado conjunto de Lula com o premiê alemão Olaf Scholz, divulgado em 30 de janeiro. O texto também falava textualmente em violação da integridade territorial da Ucrânia pela Rússia. Mas os negociadores brasileiros não queriam adotar essa linguagem tão específica para o comunicado com os americanos, porque uma declaração conjunta com os EUA nesse teor tem mais visibilidade.
O temor é que assumir um lado de forma muito clara pudesse prejudicar a habilidade do Brasil de agir como um “facilitador da paz”, na visão do governo brasileiro. Uma declaração de Lula com Biden nomeando os russos poderia gerar desconforto com o regime de Vladimir Putin, ainda que o Brasil já tenha condenado publicamente a agressão russa.
Lula pretende lançar um clube da paz, formado por países como Brasil, China e Índia, para negociar o fim do conflito na Ucrânia. Apesar de condenar a invasão feita pela Rússia, o presidente se opõe ao envio de armas e munições aos ucranianos e adoção de sanções contra os russos. Já os EUA vêm destinando bilhões em ajuda à Ucrânia e impondo sanções ao regime de Vladimir Putin.
Os negociadores brasileiros não queriam comprometer a capacidade do Brasil de levar a Rússia à mesa de negociações. Mas os negociadores consideraram que a linguagem apenas consolidava uma posição brasileira, e não deve gerar incômodo.