Dois dias depois de a polícia encontrar o corpo de Anic Herdy enterrado e concretado em Teresópolis, a defesa de Lourival Fatica, que confessou o homicídio, concedeu uma nova entrevista nesta sexta-feira (27).
Segundo a advogada Flávia Froes, pelo relato de Lourival, Benjamin teria revelado os motivos para pedir para matar Anic, que seria uma questão relativa ao usucapião do terreno e à herança da casa de Petrópolis, e também uma acusação de que Anic teria abusado da própria filha desde a infância.
“Ele (Benjamin) teria revelado a Lourival que Anic abusava da filha desde a infância. Além das brigas constantes que o casal tinha, a filha de Benjamin relata que Anic era muito violenta com o pai, que Anic agredia o marido”, disse Froes.
Contudo, a filha do casal, segundo a própria defesa do assassino confesso, não narra essa questão do abuso no processo.
Corpo sepultado em pé
A advogada ainda detalhou como Lourival matou a vítima. Segundo ela, Anic foi levada algemada para um motel e teria se urinado quando foi golpeada. Após o crime, Lourival teria vestido as roupas em Anic e a levado para sua casa, onde o corpo foi sepultado.
“Era uma algema patrimônio da Polícia Civil do Rio de Janeiro. E essa algema estava em uma das mãos da Anic, como ele narrou que estaria”, afirmou Flávia Froes.
Ainda de acordo com a defesa, o corpo teria sido colocado em pé e coberto de terra e concreto.
A delegada Cristiana Bento, responsável pelo caso, disse que o depoimento de Lourival foi fraco, que ele caiu diversas vezes em contradição, e que a algema encontrada com a Anic não é uma algema patrimoniada da Polícia Civil.
Busca e apreensão na casa de viúvo
Na quarta-feira (25), agentes da 105ª DP (Petrópolis) cumpriram um mandado de busca e apreensão na casa de Benjamin Cordeiro Herdy, viúvo da advogada Anic de Almeida Peixoto Herdy, assassinada em 29 de fevereiro em Petrópolis.
Segundo o delegado Nei Loureiro, o objetivo foi coletar imagens de câmeras de segurança para tentar pegar do histórico de gravações da residência do empresário um registro que, segundo a defesa de Lourival Fatica, comprovaria que Benjamin é o mandante do crime.
A defesa dos Herdy não se manifestou sobre o mandado de busca, mas anteriormente rechaçou a acusação.
Nesta quinta-feira (26), peritos confirmaram que o corpo encontrado na casa de Lourival, após ele revelar o paradeiro durante audiência na Justiça, é de fato de Anic. A comprovação veio com a análise da arcada dentária.
Entenda a denúncia de Lourival
Na última terça-feira (24), a advogada Flávia Froes, que representa Lourival Fatica, convocou uma coletiva em que afirmou, sem provas, que Benjamin Herdy mandou matar Anic.
“Benjamin determinou a morte desde o mês de janeiro, e o sequestro foi uma forma de encobrir esse crime”, afirmou Flávia.
“Todo o plano foi forjado por ambos, e só não deu certo porque a filha de Benjamin gravou uma conversa dela com Benjamin e Lourival, em que ela estranha o crime”, prosseguiu.
“Durante todo o período do falso sequestro, Benjamin e Lourival estiveram juntos. As antenas dos celulares de Lourival e Benjamin vão provar que ambos estavam no mesmo lugar e fizeram tudo juntos”, acusou. “Lourival utilizou o telefone da Rebecca [amante] para se movimentar, e manda a mensagem de Guapimirim para Benjamin após o assassinato.”
A advogada também apresentou uma carta supostamente escrita por Lourival da cadeia, nesta segunda (23), em que apresenta a confissão.
Delegada que coordenou as investigações, Cristiana Onorato Miguel disse ao g1 e à TV Globo que nada foi encontrado contra o marido de Anic.
“Ao contrário do telefone do Lourival, que foi totalmente apagado por ele, o telefone do Benjamim foi periciado e vasculhado de ponta a ponta. Nenhum indício nesse sentido foi encontrado”, afirma.
Defesa rechaça acusação
O advogado João Vitor Ramos, que representa o viúvo, disse que a nova versão apresentada por Lourival “se trata de mais um ato de desespero e de crueldade” e que tanto ele quanto seus procuradores serão processados.
“Em relação à 2ª entrevista coletiva convocada e prestada pela defesa de Lourival, a família de Anic entende que se trata de mais um ato de desespero e de crueldade.
Diante do óbvio e inevitável fracasso em tentar imputar a responsabilidade à própria vítima, tese que tentou emplacar quando do início das investigações, Lourival novamente altera a sua versão e agora, após a conclusão das investigações, adota a patética estratégia de desestabilizar Benjamim e Lara [filha], que em breve serão ouvidos em declarações na instrução criminal, ao atribuir a autoria ao marido da vítima.
Como se observa, retirar a vida de Anic não satisfez Lourival. A dor e o sofrimento do marido e dos filhos da vítima também não foram suficientes. Acuado pelo iminente início da instrução processual, que certamente culminará na sua condenação, assim como de todos os indiciados pela autoridade policial e denunciados pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, Lourival utiliza o holofote proporcionado pela repercussão do caso para se promover e para prosseguir na missão de destruir aquilo que nunca foi capaz de alcançar em sua vida e que sempre invejou em Benjamim, Anic, Nickolas e Lara: A união e o amor de uma família.
Lamentavelmente, essa empreitada conta com o apoio da defesa, que deveria se limitar ao aspecto técnico. Talvez acreditando que o exercício do inafastável direito de defesa lhe confere imunidade absoluta, Lourival, por intermédio dos seus procuradores, há muito prática reiterados abusos e excessos, incluindo-se, a toda evidência, a falsa imputação pública de crime a Benjamim.
Embora a emoção e a impulsividade reclamem resposta à altura, a família de Anic e seus advogados seguirão firmes no respeito ao devido processo legal, sempre observando o sigilo do processo criminal e, principalmente, atuando e dialogando nos estritos limites institucionais.
Portanto, como consequência das declarações formuladas na entrevista coletiva em questão, Lourival e seus procuradores serão demandados na esfera cível, criminal e disciplinar.
No mais, a família de Anic segue acreditando no Poder Judiciário e, principalmente, na minuciosa investigação conduzida pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, que há meses identificou e denunciou os efetivos responsáveis pelo assassinato de Anic.”