SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O corpo encontrado em uma floresta do condado de Yanshan, na China, deveria ter colocado um ponto final em um mistério que durou mais de 100 dias. Hu Xinyu, 15, estava desaparecido havia três meses, e as operações de busca após o sumiço repentino mobilizaram milhares de pessoas.
As circunstâncias em que o corpo foi encontrado, no entanto, levantaram mais perguntas que respostas. O cadáver estava pendurado em uma árvore a poucos metros da escola onde o adolescente estudava e onde, em tese, começou a missão de localizá-lo. Como os milhares de agentes e voluntários não o encontraram antes é um dos questionamentos que as investigações vão procurar responder.
Hu desapareceu em 14 de outubro de 2022. Ele era aluno recém-matriculado na escola Zhiyhuan, e lá foram gravadas as imagens que, até agora, são as últimas do adolescente ainda com vida. As câmeras de segurança registraram Hu caminhando entre os corredores da área em que ficam os dormitórios da instituição. Faltavam 15 minutos para o início das aulas noturnas, mas o garoto desapareceu, e sua família foi avisada seis horas depois.
Cento e seis dias depois, moradores próximos da escola avisaram à polícia que tinham encontrado um corpo pendurado em uma árvore usando as mesmas roupas com as quais Hu estava vestido quando desapareceu. A família do adolescente e o advogado que a auxiliava foram chamados ao local, mas a identificação do corpo só ocorreu formalmente três dias depois a partir de um exame de DNA. Era Hu.
A descoberta, no entanto, ficou aquém do suficiente para aplacar a indignação dos chineses. Na segunda-feira (30), um dia após o anúncio da polícia a respeito do corpo encontrado, a morte de Hu foi um dos assuntos mais comentados do Weibo, equivalente da China ao Twitter. Os usuários, entre lamentos pelo fim trágico das buscas, questionavam como as diversas operações -com voluntários, cães farejadores e drones- não encontraram um corpo tão perto da escola em que o garoto havia desaparecido.
A repercussão também gerou uma série de teorias da conspiração, de modo que o Diário do Povo, jornal porta-voz do Partido Comunista Chinês, publicou na segunda um artigo desmentindo algumas delas. Especulava-se, por exemplo, que o corpo de Hu teria sido jogado em uma fossa, levado a um hospital para remoção de órgãos ou até sido derretido por um professor de química -em aparente referência à série americana Breaking Bad.
No início de janeiro, a polícia chegou a emitir uma nota na tentativa de conter os rumores. As autoridades afirmaram que não havia evidências de que Hu tivesse sido morto ou se envolvido em algum acidente dentro da escola. A hipótese mais provável é de que ele tenha saído da instituição sozinho, mas os motivos e a sequência dos acontecimentos continua sendo um mistério.
De acordo com o Global Times, também alinhado ao PC Chinês, um cartão utilizado para comprar comida na escola e um gravador de voz que pertenciam a Hu foram encontrados perto do local onde o corpo dele estava –nenhum detalhe foi divulgado sobre possíveis registros em áudio do adolescente.
O artigo do Diário do Povo sustenta ainda que o caso do desaparecimento não é banal e cita a preocupação da população com as perguntas sem resposta. O jornal orienta, no entanto, que informações falsas sejam evitadas –o que, no contexto da censura chinesa à imprensa independente, ganha contornos ambíguos– e afirma que os vários mistérios acerca da morte de Hu serão esclarecidos um a um.