O relatório “Elas Vivem: dados que não se calam”, da Rede de Observatórios da Segurança, mostra um aumento de 45% dos casos de violência contra a mulher no Rio de Janeiro em 2022.
Ao todo, foram 545 casos registrados contra 375 em 2021 – dados que tornam difícil a celebração do Dia Internacional da Mulher, nesta quarta-feira (8).
O crime mais cometido é a tentativa de feminicídio/agressão física, com 287 ações, seguido do feminicídio com 103 casos. A maior parte dos crimes segue sendo cometida por companheiros ou ex-companheiros.
Para a pesquisadora Bruna Sotero, que trabalhou na elaboração dos dados no Rio, além da violência em si, os dados podem mostrar uma maior conscientização da violência sofrida e do valor da denúncia.
“Acho que é algo cíclico, com o aumento de campanhas, conseguimos maior conscientização e com maior conscientização temos um número maior de mulheres atentas a canais de denúncia, por exemplo. Hoje, mais mulheres não toleram violência e sem dúvida isso impacta no número de registros”, disse.
Mas Bruna reitera que é preciso mais ação do estado e de políticas públicas para quebrar parte desse ciclo.
Um caso de violência a cada 17h no estado
“O Rio de Janeiro é o segundo estado da Rede de Observatórios que mais registra casos. Foram 545 em 2022, o que dá um caso a cada 17h, ou quase dois por dia. Esses dados têm como objetivo maior fomentar a criação de políticas públicas, movimentar as estruturas e mostrar que algo tem que ser feito para que mais pessoas não sejam vítimas”, disse.
Outro dado que chama atenção no relatório são os dados relativos ao número de estupros/violência sexual que quase dobrou de 2021 para 2022. Foram 39 casos, contra 75 do ano passado.
Redpills X machismo à brasileira
Questionada se esses números poderiam refletir algum tipo de ação de grupos misóginos na internet, como os “redpills”, ela diz que observa o fenômeno, mas acredita que os números de violência estejam mais ligados à herança do machismo na sociedade brasileira.
“A internet hoje têm muita força na formação de opiniões, são muitas variáveis possíveis. Mas a realidade é que vivemos em um país extremamente machista, misógino e que durante muito tempo homens foram vistos como superiores às mulheres, isso nos traz consequências até hoje. Vamos seguir monitorando e acompanhando de perto essas violências para que esse cenário, em um futuro muito próximo (espero) se altere”, diz.
O relatório da Rede de Observatórios da Segurança traz ainda dados de outros seis estados, e em nenhum deles a situação é mais promissora. A maioria apresentou alta. Em São Paulo, por exemplo, há o registro de um caso de violência a cada 10 horas e um feminicídio por dia. A Bahia é o estado com o maior número de feminicídios do Nordeste, e que registrou maior crescimento da violência de um ano para o outro: 58%.
Fonte: g1