(FOLHAPRESS) – A alta fora de época de casos de VSR (vírus sincicial respiratório) tem provocado aumento na procura por atendimento e até mesmo a lotação de hospitais pediátricos.
O vírus está associado a até 75% dos casos de bronquiolite, inflamação que dificulta a chegada do oxigênio aos pulmões, e a até 40% dos registros de pneumonia em crianças menores de dois anos, segundo a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria). Os quadros mais graves acontecem principalmente em bebês menores de seis meses e alguns pacientes não resistem e morrem.
Tradicionalmente, o período de maior circulação do VSR coincide com o outono e o inverno. Ele vai de fevereiro a junho na região Norte; março a julho no Nordeste, no Centro-Oeste e no Sudeste; e abril a agosto no Sul. Mas não foi o que ocorreu em 2022 e não é o que se observa em 2023.
De acordo com a Fiocruz, houve aumento da prevalência do VSR entre os dias 25 e 31 de dezembro, com predomínio de casos em crianças de até quatro anos em São Paulo, Distrito Federal e nos três estados da região Sul, além de maior presença do vírus no Espírito Santo, Minas Gerais e Roraima.
“Os vírus não estão respeitando as sazonalidades. Após a pandemia, estamos tendo picos de influenza, adenovírus e VSR fora da época”, afirma Victor Horácio, vice-diretor técnico do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba.
Na unidade, foram registrados dez casos em setembro, 21 em outubro e 38 em novembro. Em dezembro, o número saltou para 53 e, em 2023, já há 11 confirmados.
Segundo Horácio, os casos mais graves estão associados à coinfecção pelo vírus Sars-CoV-2, causador da Covid-19, e são observados em crianças com menos de um ano que não receberam vacina contra o novo coronavírus.
Em São Paulo, os hospitais Darcy Vargas e Cândido Fontoura, referências estaduais para atendimento pediátrico, registraram aumento de cerca de 20% nos casos de VSR, afirma a Secretaria de Estado da Saúde.
No Hospital Municipal Infantil Menino Jesus, na região central da capital paulista, o número de casos de bronquiolite das últimas quatro semanas de 2022 foi cerca de 30% maior em relação à média histórica. Segundo a Secretaria Municipal da Saúde, em dezembro, foram atendidos 56 pacientes com a inflamação, dos quais 37 acabaram internados. No mesmo período de 2021, foram 102 atendimentos e 61 internações; em 2020, dez e quatro e, em 2019, 58 e 12.
No Hospital Infantil Sabará, também na capital paulista, quem procurava o pronto-socorro na última quinta-feira (5) era orientado a assinar um termo autorizando a transferência de unidade caso houvesse necessidade de internação. “Estamos com 100% de ocupação”, diz Francisco de Oliveira Júnior, gerente médico da unidade.
Os casos de VSR começaram a crescer no Sabará em outubro. Oliveira afirma que, no fim de dezembro e início de janeiro, com a cidade mais vazia, os atendimentos costumam diminuir. Desta vez, porém, o hospital está recebendo casos mais graves, que requerem internação e elevam a ocupação.
O médico explica que não é realizado o painel viral (exame para identificar a presença de diferentes vírus respiratórios) de todos os pacientes, então não é possível estabelecer a quantidade de casos provocados pelo VSR, mas dá pistas: na última semana, aproximadamente metade dos exames realizados indicava a presença do vírus. Nesta, cerca de um terço.
Em Belo Horizonte, o Hospital Mater Dei Contorno decidiu ampliar a quantidade de leitos na UTI pediátrica. Eram 16 em novembro, quando os casos de bronquiolite começaram a subir. Agora são 22 e, como a expectativa é de piora do cenário, a previsão é chegar a 30 até março.
“Na última semana de dezembro, estávamos com metade dos leitos da UTI com pacientes com bronquiolite, algo que só acontece quando chega março, abril”, afirma o coordenador da UTI pediátrica, Luís Fernando Andrade de Carvalho.
O médico diz que é muito comum irmãos que frequentam a escola passarem a doença para os caçulas que estão em casa, por isso a expectativa era de redução de casos com o início das férias. Os números, porém, continuam aumentando.
Cuidados
Não há uma vacina para VSR. O que existe é uma forma de prevenção com o anticorpo monoclonal polivizumabe, mas essa opção é restrita a crianças altamente vulneráveis, como bebês prematuros e cardiopatas. Além disso, a aplicação é realizada seguindo a sazonalidade típica da doença.
Entre as medidas de prevenção, além de manter a carteirinha de vacinação atualizada, a SBP destaca a higiene frequente das mãos, uso de máscaras, limpeza das superfícies expostas à secreção e o isolamento de pacientes com diagnóstico confirmado.
Em relação aos sinais e sintomas, os especialistas citam tosse, febre, congestão nasal, dor de ouvido e dor de garganta.
Oliveira menciona também o desconforto respiratório, que pode ser identificado pela maior abertura das narinas ao inspirar, mostrando que a criança está tentando puxar mais ar; aumento na frequência da respiração e retração da musculatura ao lado do pescoço e entre as costelas, indicando esforço para respirar.
O Ministério da Saúde lista ainda dor de cabeça, chiado no peito e lábios e unhas arroxeados como indicativos de alerta.