SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A China anunciou que vai retomar a emissão de passaportes para cidadãos que queiram viajar a turismo para outros países. Trata-se de mais uma medida contundente de afrouxamento das antigas restrições para conter a pandemia de Covid-19.
A decisão divulgada na terça-feira (27) pode enviar milhões de turistas chineses para outras nações asiáticas e europeias durante o Ano Novo Lunar, que começa no próximo dia 22 -a temporada, geralmente, é a mais movimentada do país; neste ano, por exemplo, a China registrou 1,2 bilhão de viagens durante o festival.
Paralelamente, o regime disse que voltará a aprovar visitas de residentes da China continental a Hong Kong, região administrativa cada vez mais controlada por Pequim desde a repressão aos protestos de 2019 contra a ditadura chinesa.
O anúncio se soma a outros relaxamentos divulgados pelo regime chinês nas últimas semanas, acelerados depois de milhares de chineses irem às ruas do país protestar contra a rigorosa política de Covid zero imposta pela ditadura.
As regras que confinaram milhões de pessoas em suas casas mantiveram a taxa de infecção da China baixa, mas alimentaram a frustração pública e esmagaram o crescimento econômico.
Ainda nesta semana, a Comissão Nacional de Saúde da China anunciou que, a partir de 8 de janeiro, deixará de exigir uma quarentena aos viajantes que cheguem ao país. Atualmente, já não há restrições oficiais para os chineses irem ao exterior, mas a nova regra tornará muito mais fácil para eles voltarem para casa.
A China também retomará a implementação de uma política que permite o trânsito sem visto de até 144 horas para os viajantes estrangeiros. Além disso, a extensão ou renovação de vistos será restaurada, acrescentou o órgão nacional de imigração.
Os dados da plataforma de viagens chinesa Ctrip mostraram que, meia hora após o anúncio oficial, as pesquisas por destinos internacionais populares aumentaram dez vezes. Macau, Hong Kong, Japão, Tailândia e Coreia do Sul foram os mais procurados, segundo a agência.
Segundo dados do Trip.com, por sua vez, as reservas de voos de saída do país aumentaram 254% na terça em relação ao dia anterior. Uma pesquisa da Oxford Economics mostrou que, em 2019, os chineses representaram 8% dos viajantes internacionais.
Outras agências de viagens ouvidas pela agência de notícias Reuters, por outro lado, sugeriram que um retorno ao mercado de turismo pré-pandemia ainda deve demorar meses, já que os casos de Covid no país continuam crescendo.
Os médicos dizem que os hospitais estão sobrecarregados com cinco a seis vezes mais pacientes do que o normal, a maioria deles idosos. Vídeos publicados em jornais estrangeiros, como o New York Times, mostram hospitais lotados e pacientes sendo atendidos no corredor das instalações.
Recentemente, aliás, médicos de Pequim disseram à Reuters que estavam sendo obrigados a trabalhar mesmo contaminados com o vírus.
No domingo (25), o regime anunciou que não divulgará mais dados diários de casos e mortes por Covid, como fazia desde o início de 2020 -nenhuma justificativa foi apresentada. Dez dias antes, porém, havia declarado que o rastreamento de novos casos se tornara praticamente impossível desde a flexibilização das medidas de controle.
Isso porque, ao decretar o fim da obrigatoriedade dos testes PCR e a permissão para quarentena domiciliar, os chineses passaram a realizar exames em suas próprias casas, e a maior parte deles não comunica os resultados às autoridades.
Justamente pelo agravamento da pandemia, governos estrangeiros reagiram ao anúncio de terça do regime chinês e anunciaram restrições a turistas do país asiático. O primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, por exemplo, disse que seu país exigirá um teste de Covid-19 negativo para viajantes da China continental. O governo japonês também limitará as companhias aéreas a aumentarem os voos para a China.
Itália, Índia, Malásia e Taiwan anunciaram medidas semelhantes. Os Estados Unidos, por sua vez, acusaram a China de falta de transparência e disseram que podem impor novas restrições aos viajantes chineses. Já o governo da Alemanha descartou, ao menos por ora, novos controles.
Seja como for, o afrouxamento de Pequim agradou parte do mercado: as ações de grupos globais de artigos de luxo, que dependem fortemente de compradores chineses, subiram na terça. A China responde por 21% do mercado mundial de bens de luxo de 350 bilhões de euros.