Com 1 milhão nas ruas, greve contra reforma da Previdência põe Macron sob pressão

TOULOUSE (FRANÇA (FOLHAPRESS) – Enquanto o presidente Emmanuel Macron cumpria uma agenda em Barcelona, assinando um tratado de cooperação e amizade com o premiê espanhol, Pedro Sánchez, milhares de manifestantes tomavam as ruas de mais de 200 cidades da França nesta quinta (19), em uma greve geral convocada contra sua proposta de reforma da Previdência.

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Anunciada no último dia 10 pela primeira-ministra Elisabeth Borne, a reestruturação quer aumentar a idade mínima para a aposentadoria, de 62 para 64 anos, até 2030 e prolongar os anos de contribuição, de 42 para 43 anos, já em 2027 para ter acesso à pensão integral.

Articulada pelas oito maiores centrais sindicais do país, unidas pela primeira vez em 12 anos, a greve geral obteve grandes mobilizações mesmo fora da capital. Somando Paris a cidades como Lyon, Toulouse, Marselha, Rennes e Bordeaux, saíram às ruas um total de 1,1 milhão de pessoas, segundo o Ministério do Interior.

Para a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), no entanto, a adesão foi de cerca de 2 milhões de pessoas –o que faria o movimento superar a paralisação de dezembro de 2019, quando Macron, em seu primeiro mandato, apresentou pela primeira vez um projeto de reforma.

Em Paris, onde a CGT estimou 400 mil manifestantes, a passeata foi encerrada em meio a confrontos com a polícia, que lançou bombas de gás lacrimogêneo e deteve cerca de 30 pessoas.

Um novo dia de mobilização foi marcado pelo grupo intersindical para 31 de janeiro, prolongando a pressão sobre o presidente, reeleito em 2022 e já desgastado pela alta da inflação e pela perda da maioria no Parlamento. Apostando em uma estratégia de ampliar a tensão e o desgaste político de Macron, o partido de ultraesquerda França Insubmissa convocou um ato já para este sábado (21), em Paris.

“É bom e legítimo que todas as opiniões possam se expressar”, declarou Macron na Espanha. “Tenho confiança nos organizadores das manifestações para que essa expressão legítima de desacordo possa se fazer sem criar muitos inconvenientes para o conjunto de nossos compatriotas, sem exageros, sem violência e sem degradação.”

A reforma, segundo o líder centrista, foi “democraticamente apresentada e validada” durante a campanha eleitoral que lhe deu um segundo mandato. Apesar das manifestações, disse, “é preciso levar a reforma a cabo”, insistindo que o texto é “justo e responsável” e que o processo se dará “com respeito e espírito de diálogo, mas com determinação e espírito de responsabilidade”.

Borne elogiou no Twitter “o empenho das forças policiais, bem como dos sindicatos” nos protestos desta quinta. “Permitir que as opiniões sejam expressas é essencial para a democracia. Vamos continuar a debater e convencer.” Outros membros do gabinete, incluindo Gérald Darmanin (Interior), repetiram o discurso de defesa da liberdade de manifestação.

“É normal que o tema das aposentadorias suscite inquietudes às quais é preciso responder”, disse Olivier Dussopt (Trabalho).

No lado da oposição, Jean-Luc Mélenchon, da França Insubmissa, afirmou em Marselha que a tarefa de “convencer as pessoas [sobre a reforma] já é uma batalha perdida” do governo. Segundo ele, “a reforma não tem sentido”.

Num dia que prometia ser de caos, os setores de educação, transportes e energia foram os mais afetados pela greve desta quinta. Numa batalha de dados, os sindicatos apresentaram números superlativos da adesão à paralisação dos trabalhadores da educação (65%), quando comparados aos apresentados pelo ministério (não mais que 42%).

Nos transportes, a greve forçou o cancelamento da maior parte das viagens de trem no país, incluindo conexões internacionais, segundo a SNCF, a companhia nacional ferroviária. O fluxo de metrôs e ônibus das grandes cidades também sofreu reduções expressivas, gerando turbulência em Paris, onde o transporte aéreo, menos afetado, teve cerca de 20% dos voos cancelados no aeroporto de Orly.

Os grevistas do setor de energia ameaçaram cortar o fornecimento de eletricidade a algumas regiões, mas recuaram, segundo Philippe Martinez, secretário-geral da CGT. O líder dos Republicados (LR) no Senado, Bruno Retailleau, denunciou o caso como de uso de “métodos ilegais, que vão para além do Estado de direito”, e apelou a sanções.

A proposta de reforma da Previdência da dupla Macron-Borne deve ser apresentada formalmente ao conselho de ministros no próximo dia 23, para então seguir à Assembleia Nacional, onde o presidente francês espera obter o apoio dos Republicanos para aprovar o texto ainda no primeiro trimestre.

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