RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – Ele estava no auge da carreira como dançarino, no grupo de Frank Aguiar, quando ouviu que nĂŁo teria mais o movimento das pernas. O choro e as incertezas deram espaço a um mundo novo, desbravado a remo. Quando lhe foi apontada a limitação, LuĂs Carlos conseguiu achar liberdade, e agora, em Paris, vai buscar a segunda medalha paralĂmpica.
Natural de Picos, no PiauĂ, LuĂs começou a dançar aos 10 anos. Passou a dar aulas em projetos sociais e, aos 16, recebeu um convite para integrar um grupo de forrĂł. Avisou Ă famĂlia, fez as malas e embarcou no dia seguinte.
“Eu tinha o desejo de viver isso, poder dançar, aparecer na televisĂŁo, viajar. Quando recebi uma proposta de uma banda de forrĂł do Ceará, nĂŁo pensei duas vezes”, disse.
O dançarino passou por algumas bandas e se apresentou em programas televisivos famosos, como Sabadaço e Raul Gil, atĂ© que chegou no que disse ser o ponto alto da carreira: integrar o corpo do balĂ© de Frank Aguiar. O cantor, conhecido como “cĂŁozinho dos teclados”, estourou em todo o Brasil.
Em 10 de dezembro de 2009, LuĂs fez um show. No dia seguinte, celebrou 25 anos, mas fortes dores no corpo fizeram ele ir ao hospital. “Olhavam os exames e falavam que eu nĂŁo tinha nada”. Uma infecção na medula o deixou paraplĂ©gico.
O atleta ficou internado por dois meses. Neste perĂodo, soube da morte da mĂŁe, que aconteceu no começo de janeiro de 2010.
“Eu nĂŁo tinha nem superado o que mĂ©dico havia falado para mim e veio essa notĂcia. Mexeu nĂŁo sĂł comigo, mas com toda a minha famĂlia. Acabei ficando um tempo sozinho, mas precisava superar tudo aquilo”, lembra.
Depois de sete meses da alta hospitalar, LuĂs foi morar sozinho e começou a escrever uma nova histĂłria.
DA DANÇA AO ESPORTE
O esporte apareceu na vida de LuĂs Carlos em meio ao perĂodo de reabilitação. A canoagem nĂŁo foi a primeira modalidade a se apresentar, mas foi a que fez ele se apaixonar.
“Comecei a pesquisar e encontrei um grupo de atletas que estavam praticando basquete em cadeira de rodas. Comecei a agarrar todas as oportunidades e essa foi a primeira. Comecei a jogar, mas, logo depois, veio a canoagem, atravĂ©s da minha fisioterapeuta. E de imediato, já me apaixonei. NĂŁo somente por ser um esporte diferente, que eu nunca tinha praticado, mas, principalmente, pela liberdade que me proporcionou naquele momento, de me sentir livre. E foi isso em que eu comecei a depositar toda a minha energia”, conta.
LuĂs teve um empurrĂŁozinho de Frank Aguiar no começo da carreira na canoagem. O nome do primeiro barco, inclusive, gerava uma comemoração, pode-se dizer, sonora quando o atleta chegava ao pĂłdio por conta do apelido do ex-chefe.
“O primeiro barco que eu tive foi o Frank que me deu. Eu coloquei o nome dele no barco e lembro que, toda vez que eu estava no pĂłdio, começavam a latir (risos). AtĂ© hoje tem pessoas que trabalham na canoagem que lembram disso. Ele me auxiliou bastante, Ă Ă©poca. E pelo fato de ser famoso, gerava curiosidade nas pessoas”, conta.
Desde entĂŁo, foram diversas competições na classe KL1 – usa somente os braços na remada – e tĂtulos. Na Rio-2016, o pĂłdio bateu na trave, mas o sonho da medalha olĂmpica se realizou em TĂłquio, que conquistou a prata.
Em Paris, LuĂs quer aumentar a coleção e, de preferĂŞncia, com a cor dourada. Em maio, no Mundial da modalidade, alcançou o topo do pĂłdio na disputa KL1M 200m.