WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – A tentativa feita por Joe Biden de enquadrar democratas parece nĂŁo ter funcionado. Desde segunda-feira (8), quando o presidente confrontou o partido em defesa de sua candidatura, mais nomes vieram a pĂșblico pedir que ele se retire da corrida.
Pesam no cĂĄlculo de deputados e senadores sua prĂłpria sobrevivĂȘncia: muitos temem perder seus mandatos para adversĂĄrios republicanos caso Biden seja o candidato Ă PresidĂȘncia. O raciocĂnio segue a mĂĄxima de que um nome fraco para o cargo mais importante da eleição contamina o desempenho de todos os que vĂȘm abaixo.
As defecçÔes se avolumam Ă s vĂ©speras de um momento visto como crucial para a campanha: Ă s 18h30 (horĂĄrio de BrasĂlia) desta quinta, Biden deve participar de uma entrevista coletiva com jornalistas, algo raro em seu mandato.
A agenda estĂĄ sendo encarada como uma oportunidade de escrutinar suas condiçÔes fĂsicas e cognitivas. Em meio Ă crescente pressĂŁo para que desista, o presidente de 81 anos precisa provar estar apto para exercer o cargo e que o debate foi apenas uma noite ruim, como tem afirmado.
Questionamentos sobre a viabilidade eleitoral devem dominar a “coletiva de menino grande”, como foi chamada pela secretĂĄria de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, em alusĂŁo ao momento solo entre Biden e imprensa.
Essa tarefa fica ainda mais espinhosa diante dos apelos feitos por aliados na quarta para que ele desista, ou ao menos reflita melhor se sua permanĂȘncia na chapa do partido Ă© o melhor para os EUA.
O nome mais recente a se juntar a esse grupo foi Peter Welch, o primeiro senador a pedir publicamente que Biden saia da corrida.
“Eu entendo por que o presidente Biden quer concorrer. Ele nos salvou de Donald Trump uma vez e quer fazer isso novamente. Mas ele precisa reavaliar se Ă© o melhor candidato para isso. Na minha opiniĂŁo, ele nĂŁo Ă©. Pelo bem do paĂs, estou pedindo ao presidente Biden que se retire da corrida”, escreveu Welch em artigo publicado no Washington Post.
O texto foi ao ar poucas horas depois de George Clooney, um importante apoiador democrata, fazer pedido semelhante em um artigo publicado no New York Times. O ator participou no mĂȘs passado de um evento de arrecadação de fundos para a campanha que levantou US$ 28 milhĂ”es.
“Ă devastador dizer isso, mas o Joe Biden com quem estive hĂĄ trĂȘs semanas no evento de arrecadação de fundos nĂŁo era o Joe Biden do ‘isso Ă© do c.’ de 2010 [elogio feito ao ex-presidente Barack Obama ao promulgar a reforma do sistema de saĂșde]. Ele nem era o Joe Biden de 2020. Ele era o mesmo homem que todos testemunhamos no debate”, escreveu Clooney.
Completam a debandada desta quarta os deputados Pat Ryan e Earl Blumenauer. No total, nove democratas da CĂąmara jĂĄ pediram publicamente a saĂda de Biden da corrida.
As declaraçÔes seguiram uma entrevista dada pela ex-presidente da Cùmara, Nancy Pelosi, uma das principais lideranças do partido, em que ela afirmou que o tempo para o presidente tomar uma decisão sobre sua candidatura estå acabando -algo que foi lido nas entrelinhas como um pedido para ele repensar sua continuidade na corrida.
Outro senador do partido, o representante do Colorado Michael Bennet, nĂŁo pediu explicitamente a desistĂȘncia do presidente, mas afirmou que teme uma derrota de lavada em novembro.
A campanha democrata jĂĄ havia antecipado que essa semana seria sensĂvel, com o retorno de congressistas a Washington apĂłs o feriado de 4 de julho e a retomada das articulaçÔes partidĂĄrias. Por isso, Biden partiu para o ataque na segunda e enviou uma carta Ă sua base para dar a um basta nas especulaçÔes sobre sua substituição.
Na terça, as bancadas democratas na CĂąmara e no Senado tiveram reuniĂ”es a portas fechadas separadamente. Congressistas nĂŁo esconderam suas frustraçÔes com o presidente, mas a mensagem oficial apĂłs os encontros foi de apoio ao mandatĂĄrio, o que deu um alĂvio momentĂąneo Ă Casa Branca.
As novas defecçÔes nesta quarta, porĂ©m, mostram que a turbulĂȘncia estĂĄ longe de ter sido superada.
Seguindo a estratĂ©gia de expor mais o presidente publicamente, para que ele prove ser capaz de cumprir a função sem o auxĂlio de assessores ou teleprompters, a campanha anunciou uma nova entrevista a um canal de TV, a rede NBC, para a segunda-feira (15), a segunda em duas semanas.