O Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) aceitou os pedidos feitos pela defesa e concedeu habeas corpus à influenciadora Deolane Bezerra na manhã desta segunda-feira (9). Deolane deverá ficar em prisão domiciliar e usar tornozeleira eletrônica. Segundo informações obtidas pelo g1, a decisão também beneficia Maria Eduarda Filizola, esposa de Darwin Henrique da Silva Filho, dono da Esportes da Sorte.
Procurado, o TJPE disse que não pode se pronunciar sobre o assunto.
- A prisão domiciliar vale, inclusive, para fins de semana e feriados;
- O uso de tornozeleira eletrônica (monitoração eletrônica) é obrigatório;
- É proibido entrar em contato com os demais investigados;
- Ela não pode se manifestar por meio de redes sociais, imprensa, ou outros meios de comunicação.
A empresária, advogada e influenciadora foi presa na semana passada durante uma operação que investiga um suposto esquema de lavagem de dinheiro proveniente de jogos de azar.
A decisão foi tomada pela 4ª Câmara Criminal, após uma indefinição sobre quem deveria julgar o habeas corpus. Até por volta de 11h20, a influenciadora não havia deixado a Colônia Penal Feminina, no bairro da Iputinga, no Recife.
A mãe de Deolane, Solange Bezerra, não foi beneficiada com a decisão. Segundo informações apuradas pelo g1, tanto a influenciadora quanto Maria Eduarda Filizola foram beneficiadas pelo artigo 318A do Código Penal e por um habeas corpus coletivo concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), de 2018, que substitui a prisão preventiva por domiciliar de gestantes, lactantes e mães de crianças de até 12 anos ou de pessoas com deficiência.
Deolane tem uma filha de 8 anos, além de um de 20 e outro de 18. Até a última atualização desta reportagem, o g1 não tinha informações sobre a idade do filho de Maria Eduarda.
Além do habeas corpus, a família disse que entrou com um pedido de revogação da prisão preventiva, que também está sob análise da Justiça.
Fãs de Deolane na porta de presídio
Desde que a influenciadora foi presa, um grupo de fãs permaneceu em frente à entrada da unidade prisional para manifestar apoio à empresária.
Pouco antes das 10h desta segunda, Dayane Bezerra, uma das irmãs da influenciadora, postou um vídeo que diz que o habeas corpus havia sido concedido para Deolane, mas não para a mãe delas, Solange Bezerra.
“Meu povo, estamos indo para a porta do presídio. Saiu a decisão. Deolane foi libertada, mas minha mãe, não. É uma prisão injusta, arbitrária. Precisamos de vocês lá, quem puder ir pra lá. Vamos tirar Deolane, mas precisamos mais do que nunca da força de vocês, para tirar minha mãe de lá”, disse Dayane.
Logo depois, ela e a irmã, Daniele, chegaram de carro, juntamente com o advogado, à Colônia Penal Feminina, no bairro da Iputinga, na Zona Oeste do Recife.
“Minha mãe é inocente, não tem nada que justifique essa prisão. Enquanto minha mãe está presa, tem um monte de investigados milionários por aí. O que está acontecendo, Brasil? O que é isso?”, disse Dayanne.
A empresária e influenciadora digital Deolane Bezerra foi presa, na quarta-feira (4), em uma operação policial contra uma quadrilha suspeita de movimentar cerca de R$ 3 bilhões num esquema de lavagem de dinheiro proveniente de jogos de azar.
Segundo a Polícia Civil, a Justiça decretou o sequestro de bens de vários alvos, incluindo aeronaves e carros de luxo, e o bloqueio de ativos financeiros no valor de R$ 2,1 bilhões. Ao todo, a polícia solicitou que R$ 3 bilhões fossem bloqueados.
A operação “Integration” investiga uma organização criminosa suspeita de lavagem de dinheiro e prática de jogos ilegais. Foram cumpridos 24 mandados de busca e apreensão e apreendidos dezenas de imóveis, embarcações, aeronaves, veículos e objetos de luxo.
Além de Deolane Bezerra, foram presas mais de 10 pessoas suspeitas de integrar o esquema, incluindo o empresário Darwin Henrique da Silva Filho, dono da casa de apostas Esportes da Sorte.
Segundo a Polícia Civil, os pagamentos à vista pela compra e pela venda de carros de luxo feitas pela empresa e pelo empresário geraram indícios de que houve “lavagem de dinheiro proveniente do jogo do bicho e de apostas esportivas”.
Após ser presa, Deolane confirmou que comprou um carro de luxo de Darwin, um Lamborghini Urus S, por R$ 3,85 milhões.
Darwin se entregou à polícia na quinta-feira (5), junto com a esposa, Maria Eduarda Filizola.
Segundo o delegado Renato Rocha, que investiga o caso, apenas em um local foram encontrados 11 relógios da marca de luxo “Rolex”. Até esta segunda-feira, a Operação “Integration” apreendeu:
- Duas aeronaves e dois helicópteros avaliados em R$ 127 milhões;
- Cinco automóveis de luxo avaliados em R$ 24.440.196,79;
- R$ 439.869 em espécie;
- US$ 2.153 em espécie (o equivalente a cerca de R$ 12.146,15);
- 5.819 euros em espécie (o equivalente a cerca de R$ 36.372,34);
- 6.310 libras esterlinas em espécie (cerca de R$ 46.567,80);
- 37 bolsas femininas de luxo;
- 76 anéis e 17 joias de diversos modelos;
- 16 relógios de luxo;
- Garrafas de vinho avaliadas em torno de R$ 5 mil cada uma.
Como funcionava o esquema criminoso?
Segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública, a investigação teve início a partir da apreensão de mais de R$ 180 mil em espécie no dia 1º de dezembro de 2022 na Banca Caminho da Sorte, que pertence a Darwin Henrique da Silva, pai do dono da Esportes da Sorte, Darwin Henrique da Silva Filho.
Além do dinheiro, foram apreendidos no local documentos que, segundo a polícia, são “suficientes para apontar estreita ligação entre as empresas supramencionadas na prática de atividade ilícitas”.
Conforme as apurações, o grupo criminoso movimentou, entre janeiro de 2019 e maio de 2023, cerca de R$ 3 bilhões em contas correntes, aplicações financeiras e transações com dinheiro em espécie, provenientes de jogos ilegais.
Para lavar o dinheiro obtido de forma ilegal, de acordo com o ministério, a quadrilha usava empresas de eventos, publicidades, casas de câmbio e seguros. O esquema era realizado por meio de depósitos fracionados em espécie e transações bancárias entre os suspeitos com o saque imediato dos valores.
Outra forma de disfarçar o crime, segundo a pasta da Justiça, se deu pela compra de veículos de luxo, aeronaves, embarcações, joias, relógios de luxo e imóveis.
Ainda de acordo com o ministério, foram identificadas movimentações financeiras atípicas entre pessoas físicas e jurídicas ligadas à organização criminosa, e a maioria dos suspeitos apresenta um padrão de vida “totalmente incompatível” com a renda e os bens declarados à Receita Federal.
Qual seria a participação de Deolane nos crimes?
Até a última atualização desta reportagem, a polícia não detalhou a ligação de Deolane e da mãe dela, Solange Bezerra, com o suposto esquema criminoso nem informou a quem pertenciam os itens apreendidos durante a operação.
Em entrevista coletiva, o chefe da Polícia Civil de Pernambuco, Renato Rocha, disse apenas que a ação mira uma organização que faz lavagem de dinheiro de recursos provenientes de jogos ilegais. No entanto, ele não explicou quais jogos seriam esses nem deu os nomes das pessoas e das empresas investigadas.
Quais eram os jogos ilegais?
Segundo o secretário de Defesa Social de Pernambuco, Alessandro de Carvalho, as bets envolvidas no esquema atuavam, inicialmente, no jogo do bicho, que é proibido no Brasil, e aproveitaram o crescimento do mercado de apostas esportivas online, autorizado e regulamentado pelo governo federal neste ano, para legalizar suas atividades.
Ainda de acordo com o secretário, o grupo investigado explorava também jogos ilegais, como o ‘Jogo do Tigrinho’, cassino online famoso que promete ganhos fabulosos. Na prática, o objetivo dele é que o jogador faça uma combinação de três figuras iguais nas três fileiras que aparecem na tela.