Dina diz que Peru sangra por culpa de Castillo e pede trégua em protestos

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A presidente do Peru, Dina Boluarte, culpou seu antecessor pela crise que chegou ao paroxismo no país e pediu uma trégua nacional nos protestos que pedem por sua renúncia e pela dissolução do Parlamento. Mais de 50 pessoas já morreram nos atos, convocados por apoiadores de Pedro Castillo, preso após ser destituído em uma tentativa de golpe no começo de dezembro.

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“Convoco a minha querida pátria para uma trégua nacional para poder estabelecer mesas de diálogo, poder fixar a agenda de cada região e desenvolver nossos povos. Não me cansarei de chamar por diálogo, paz e unidade”, disse Dina, em entrevista para a imprensa estrangeira no Palácio de Governo, em Lima.

Ela também fez um chamado ao Legislativo, para que se acelere a tramitação do projeto, apresentado pelo Executivo, que antecipa as eleições gerais no país de 2026 para o ano que vem. Como fez em pronunciamento recente ao país, a presidente chamou parte dos manifestantes de radicais, afirmando que eles têm “uma agenda política bem desenhada”.

Segundo ela, os atos já custaram ao Peru mais de R$ 6,7 bilhões, sendo R$ 2,7 bilhões na forma de impactos na produção econômica -o turismo tem sido uma das atividades mais comprometidas- e R$ 4 bilhões em danos diretos à infraestrutura do país.

Dina ainda dirigiu parte da entrevista para fazer críticas diretas ao antecessor, citando estar no poder apenas pelo fato de ele ter tentado empreender um golpe de Estado. “Aqui não há vítima, senhor Castillo. Aqui há um país que está sangrando como resultado de sua irresponsabilidade.”

No dia 7 de dezembro, Dina foi um dos primeiros atores políticos de peso no Peru a dizer que o movimento de Castillo configurava uma tentativa de golpe. Antes vice-presidente, ela é chamada de “traidora” pelos manifestantes contrários ao seu governo.

A presidente afirmou que não tem interesse em ficar no poder, mas realçou que não vai renunciar ao cargo. “Minha renúncia resolveria a crise e a violência? Quem assumiria a Presidência?”, questionou. “Eu saio quando convocarmos eleições gerais. Não tenho intenção de ficar no poder.”

Dina também se manifestou sobre a detenção aproximadamente 200 pessoas em atos na Universidade San Marcos, na capital peruana. No sábado (21), a polícia entrou no campus derrubando o portão com um veículo blindado e usou bombas de gás lacrimogêneo e um helicóptero para desocupar a instituição, onde se abrigavam centenas de pessoas de regiões do sul do país que foram a Lima para se juntar aos protestos.

O caso elevou a pressão sobre o governo. “Talvez a forma [como a polícia agiu] não tenha sido adequada, e por isso peço desculpas”, disse Dina, acrescentando que nenhuma pessoa ficou ferida na operação. “[Os manifestantes] foram identificados, levados para a delegacia e liberados. A polícia interveio para proteger a vida dos alunos que estavam dentro da universidade porque não sabíamos quem tinha entrado”.

Ao menos 193 pessoas foram presas, das quais 192 foram indiciadas por crimes como danos contra o patrimônio e roubo qualificado. Quase todos os detidos foram libertados até a noite de domingo (22) para responder pelas acusações em liberdade; a exceção foi uma pessoa que teria um mandado de prisão prévio emitido contra si.

No último dia 10, a Procuradoria-Geral peruana anunciou a abertura de investigação preliminar tendo como alvo diversas autoridades, incluindo a presidente e o premiê, Alberto Otárola, suspeitos de terem cometido os crimes de genocídio, homicídio qualificado e lesões graves na repressão aos protestos.

Ao menos 56 pessoas já morreram nos protestos, entre elas um policial. Vídeos que se tornaram virais nas redes sociais mostram agentes de segurança disparando com armas de fogo contra manifestantes.

Apoiadores de Castillo têm atacado à infraestrutura do país como estratégia para desgastar o governo Dina. Na semana passada, as instalações de uma mina de cobre e de uma delegacia foram incendiadas. No último sábado, o Peru anunciou o fechamento por tempo indefinido da entrada para a cidade inca de Machu Picchu, joia turística do país, alegando motivos de segurança.

Segundo Dina, o governo peruano recebeu nos últimos dias uma delegação do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que monitora a situação no país. “Todos nós queremos saber a verdade”, disse a presidente.

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