(FOLHAPRESS) – Seja para tomar um xarope, comer uma fruta ou fazer com que a criança faça o dever de casa, a educação positiva tem sido aliada de mães e pais que querem educar os filhos de uma forma mais leve e respeitosa. No entanto, pipocam nas redes sociais queixas de pais que dizem que o método não funcionou, pelo contrário, deu voz demais às crianças.
Alguns pais inclusive alegam que, após tentarem a educação positiva, tiveram um resultado contrário ao que esperavam, e os filhos começaram a questionar e argumentar contra tudo. “Hoje minha filha acha que tem o direito de me responder e sugerir coisas que não são cabíveis”, diz uma mãe em uma plataforma de vídeo. Outra afirma que nem na escola a filha estava obedecendo os professores.
Educadora parental e psicopedagoga, Andreia Rossi explica que para aplicar a educação positiva é necessário entender que nem tudo é oito ou oitenta e o método não é, necessariamente, o contrário da educação tradicional, já que regras e limites também são importantes.
“Acontece uma confusão porque as pessoas acham que não podem mais falar não, nem colocar limites e estabelecer regras, porque senão você não estaria sendo respeitoso”, afirma Rossi.
Implementada pela primeira vez por volta de 2008 em uma escola australiana, a educação positiva, oficialmente falando, tem como base um ramo da psicologia que defende que todas as crianças sejam tratadas com respeito e dignidade.
Segundo Leiva Leal, professora de mestrado em letras da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), o termo chegou ao Brasil somente em 2013 num momento em que surgia um contraponto à educação punitivista -de castigos e até violência- aplicada à crianças e jovens.
Mas, por outro lado, também alertou que mimar e fazer tudo pelos filhos não era a maneira mais saudável e encorajadoras de lidar com as crianças, pois isso resulta em problemas sociais e de comportamento, explica Leal. Além dela, outros especialistas defendem que esse tipo de disciplina não seja sinônimo de pemissividade.
Professora da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e membro do NCPI (Núcleo de Ciência pela Infância), Maria Beatriz Linhares afirma que as crianças são imaturas, por isso os pais precisam assegurar o desenvolvimento para todas as áreas, a cognitiva, a afetiva e emocional. “A parentalidade positiva tem a ver com isso”, completa.
De acordo com Linhares, a permissividade se contrapõe ao modelo de educação autoritária, então os pais e responsáveis acabam achando que para não criarem o filho em modelos tradicionais e repressivos, podem deixar a criança fazer tudo sem limites, nem regras.
“O papel da parentalidade é corregular a emoção e comportamento das crianças, sem ser permissivo e frouxo, mas a internet tem veiculado dessa forma. Eu já vi criança batendo no rosto da mãe e dizendo que é fruto da parentalidade positiva, o que acaba sendo um desserviço”, diz.
Nas redes sociais, a educação positiva ganhou tanto destaque que virou até meme. Em vídeos como “você prefere pegar água para mim agora ou daqui a cinco minutos?”, pessoas tentam aplicar o método até mesmo em seus parceiros.
Dados do Google Trends mostram, inclusive, que o interesse pelo termo “educação positiva” cresceu 12 vezes nos últimos cinco anos (de 2019 a 2023) , alcançando um recorde de buscas neste ano após ter viralizado como meme.
Vídeos e posts sobre o assunto, segundo Rossi, tendem a atrapalhar o entendimento sobre disciplina positiva após, justamente, viralizar nas redes. “Esses conteúdos geralmente representam um recorte da tentativa de uma pessoa em aplicar o método. Além disso, existem leituras distorcidas sobre esse movimento e o que chama a atenção costuma ser a polêmica.”
Criar filhos não é algo intuitivo, diz Rossi, e o tipo de conteúdo surge em decorrência da dificuldade e acaba esbarrando em outras pessoas que estejam passando pelo mesmo problema, o que pode gerar mais críticas. “Este é, inclusive, um ponto negativo para educação positiva, essa falta de constância dos pais que desacreditam e desistem rapidamente desse processo”, completa Rossi.
Como alternativa, se possível, a psicopedagoga diz que responsáveis devem buscar ajuda de um orientador parental para entender com clareza o processo de educação infantil e para que seja estabelecida uma relação mais harmônica e realista sobre a maternidade e a paternidade.
Campanhas educativas por parte do sistema público também podem ajudar a inserir o tema na saúde, na educação, na proteção social e no Judiciário, explica a docente da USP Maria Beatriz Linhares. Para ela, métodos como esses podem ajudar os pais a refletirem e, apesar de a internet funcionar como ferramenta de conhecimento, é necessário intervir para evitar confusões.
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