(FOLHAPRESS) – O garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami quase triplicou em 2022 na comparação com 2020 -quando teve início o monitoramento feito pela Polícia Federal na região.
Segundo esses dados, o garimpo ocupava 14 km² do território em 2020, passou para 23,73 km² em 2021 e para 41,83 km² em 2022, um crescimento de 76% em um ano e de 198% desde o início do monitoramento.
Em fevereiro de 2023, o governo Luiz Inácio Lula da Silv (PT) começou uma operação para expulsar a atividade ilegal do território indígena. Agora, pela primeira vez o monitoramento da polícia chegou a mais de 30 dias seguidos sem identificar nenhum alerta para novo garimpo.
O último aviso das imagens de satélite veio em 6 de maio. Até 8 de junho, data da última consolidação de dados feita pela força, não houve mais nenhum.
“Isso significa que o garimpo acabou? Não, mas parou de avançar, houve uma interrupção pelo estrangulamento da logística. As vias fluvial e aérea foram inviabilizadas, suprimentos não estão chegando como antigamente e o escoamento está difícil”, diz o delegado Thiago Leão, do departamento de Repressão a Crimes Ambientais em Roraima.
“Ainda há garimpeiros resistentes. Nosso objetivo é fazer a prisão deles”, afirma.
A explosão do garimpo na Terra Indígena Yanomami aconteceu durante o governo Jair Bolsonaro (PL). Sua gestão ficou marcada por defender a atividade e tentar avançar projetos que regulamentam a exploração do mineral dentro dos territórios, o que atualmente é proibido.
Em janeiro deste ano, o governo Lula declarou estado de emergência em saúde pública no território, diante da explosão de casos de malária, desnutrição grave e doenças associadas à fome, como infecções respiratórias.
Já a queda da expansão garimpeira acontece após a operação do governo federal que envolveu PF, Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), Funai (Fundação dos Povos Indígenas), Força Nacional, PRF (Polícia Rodoviária Federal) e militares.
Segundo a PF, o fim do avanço do garimpo simboliza a transição da primeira fase da operação, focada no estrangulamento logístico, para a segunda, que visa impedir que a atividade retorne ao local.
A intenção agora é, junto com outros órgãos que atuam na área, ocupar o território Yanomami com novas bases e com equipes passando dias na floresta.
Atualmente, há duas equipes da PF atuando no território, mas, por motivos de segurança, a instituição não divulga o número de agentes.
Não há dado oficial, mas a estimativa é que cerca de 10% do garimpo ilegal ainda resista dentro do território.
Pessoas envolvidas nas ações afirmam, sob anonimato, que o perfil de atuação dos garimpeiros se adaptou, com trabalho noturno, acampamentos dentro da mata e até com equipamentos sendo enterrados durante o dia para dificultar a fiscalização.
Segundo essas pessoas, os garimpeiros se entocaram em pontos que ficam até 5 quilômetros dentro da mata e também estão nas regiões mais próximas da fronteira com a Venezuela.
As ações de repressão ao garimpo levaram, na virada de abril para maio, ao ponto alto de tensão na operação, quando houve uma série de conflitos.
No dia 29 de maio, um indígena foi morto e dois foram baleados por garimpeiros na região de Uxiú.
No domingo (30), em outro ponto do território, equipes da PRF e do Ibama foram recebidas a tiros quando chegavam a um garimpo para uma ação de repressão ao crime organizado. Quatro garimpeiros foram mortos pelos agentes de segurança e foi encontrada grande quantidade de armamento no local.
Na segunda (1º), mais oito corpos foram encontrados na região do Uxiú, desta vez de não indígenas, e a PF enviou grupos de elite para o local.
Depois, o corpo de uma mulher foi encontrado na mesma região, com sinais de violência sexual. A PF diz que há indícios de que ela foi morta por enforcamento.
Não houve mais registro de conflitos desde então, ou de mortes. Pessoas envolvidas na operação afirmam, sob reserva, que o clima nas áreas de garimpo, no entanto, ainda é hostil e que os acampamentos contêm armas usadas para defesa.
A parada do avanço, no entanto, é uma boa notícia para os agentes.
O delegado da PF explica que é a primeira vez, desde 2020 -quando o sistema de monitoramento por satélite foi criado- que isso acontece.
“Existe uma leitura inteligente por parte desse sistema que emite alertas de garimpo. Ele identifica desmatamentos típicos de garimpo, como desmatamento de aluvião às margens rio. Aluvião é barranco, feito na terra mesmo, para procurar o minério”, diz ele.
Não há previsão de quanto tempo essa nova fase pode durar, nem expectativa de quando a operação no território Yanomami pode terminar.