O Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro combateu 460 focos de incĂȘndio apenas nesta quinta-feira (12). Considerando o perĂodo de um Ășnico dia, este Ă© o recorde do ano. Desde o inĂcio de 2024, jĂĄ foram mais de 16 mil ocorrĂȘncias atendidas.
HĂĄ cerca de duas semanas, dados divulgado pela corporação jĂĄ apontavam para um alarmante aumento dos casos. Desde o inĂcio do ano, foi registrado um volume de ocorrĂȘncias 85% superior ao do mesmo perĂodo de 2023. Os municĂpios do Rio de Janeiro (4.513), SĂŁo Gonçalo (569) e Duque de Caxias (561) estavam no topo do ranking dos mais afetados, seguidos por MaricĂĄ, Nova Iguaçu, NiterĂłi, Araruama, Nova Friburgo, Campos dos Goytacazes e Volta Redonda.
Em alguns casos, os incĂȘndios ocorrem prĂłximos a comunidades. Bombeiros estĂŁo combatendo chamas, por exemplo, no Parque Estadual da Pedra Branca, na encosta voltada para Realengo, na zona oeste da capital. O fogo tambĂ©m se alastrou na mata do Morro das Andorinhas, em NiterĂłi, gerando preocupação dos moradores.
No Parque Nacional da Serra dos ĂrgĂŁos, na regiĂŁo serrana do estado, o combate a focos de incĂȘndios tambĂ©m tem demandado esforços. A unidade de conservação, que abrange ĂĄreas dos municĂpios de Guapimirim, MagĂ©, PetrĂłpolis e TeresĂłpolis, tem a maior rede de trilhas do Brasil. Ă tambĂ©m um dos locais mais buscados para a prĂĄtica de esportes de montanha, como escalada, caminhada e rapel. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICBMBio), que administra o parque, jĂĄ precisou mobilizar seus brigadistas em diferentes ocasiĂ”es desde o mĂȘs passado.
“Na noite de 10 de setembro, um incĂȘndio florestal de causas criminosas foi deflagrado na regiĂŁo do Caxambu atingindo a Travessia Cobiçado x Ventania. A brigada de combate a incĂȘndios do Parque Nacional da Serra dos ĂrgĂŁos estĂĄ em atividade, porĂ©m o clima seco, o relevo da regiĂŁo e os fortes ventos tornam o controle mais difĂcil. Pedimos que evitem acessar a ĂĄrea do Morro do Cobiçado e Ventania. Essas regiĂ”es se tornam muito perigosas na presença do fogo e precisam ser isoladas para que o combate seja realizado de forma segura e eficaz”, registra o informe mais recente divulgado pela administração da unidade por meio de suas redes sociais.
Dados do monitoramento por satĂ©lite realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) endossam as preocupaçÔes no estado. Desde o inĂcio do ano, foram detectados 840 focos de queimadas. Ă o maior nĂșmero de ocorrĂȘncias jĂĄ registrado em um Ășnico ano desde 2017, quando houve 959 registros. Ă uma marca que ainda pode ser superada, jĂĄ que setembro e outubro sĂŁo meses com uma grande mĂ©dia histĂłrica de incĂȘndios florestais.
Somente em agosto, 240 focos de queimadas foram detectados no Rio de Janeiro. Ă o maior nĂșmero registrado para o mĂȘs desde 2010, quando houve 355 ocorrĂȘncias. Em setembro, o Inpe jĂĄ identificou atĂ© o momento 135 incĂȘndios florestais dentro do estado.
O excesso de queimadas no Brasil vem resultando em uma queda na qualidade do ar em diversas regiĂ”es, gerando preocupaçÔes com a saĂșde das populaçÔes. Nas Ășltimas semanas, viralizaram nas redes sociais imagens que mostram paisagens encobertas por fumaças em algumas capitais, como BrasĂlia, SĂŁo Paulo e Belo Horizonte. Em algumas cidades do interior do estado do Rio de Janeiro, a fumaça tambĂ©m impressionou os moradores. Isso ocorreu, por exemplo, na regiĂŁo serrana, onde estĂŁo municĂpios como PetrĂłpolis e TeresĂłpolis.
Especialistas tĂȘm apontado que os ecossistemas ficam mais vulnerĂĄveis a incĂȘndios em momentos de seca, como a que o paĂs estĂĄ enfrentando. Esse cenĂĄrio pode estar sendo influenciado por diferentes fatores, como o aquecimento global impulsionado pela ação humana e pelos efeitos do fenĂŽmeno climĂĄtico El Niño, seguido da La Niña.
Mas, apesar do clima seco deixar ĂĄreas de mata mais suscetĂveis a queimadas, a origem delas estĂĄ na maioria das vezes relacionada com o comportamento humano. Segundo os Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, em 95% dos casos, as chamas começam pela ação do homem, seja de forma acidental ou mesmo voluntĂĄria. JĂĄ hĂĄ investigaçÔes abertas em diversos locais do paĂs que apuram indĂcios de incĂȘndios criminosos. PrisĂ”es jĂĄ foram realizadas nos Ășltimos dias, por exemplo, nos estados de SĂŁo Paulo e de GoiĂĄs.
Investimentos estaduais
Em meio a esse cenĂĄrio, o governo do Rio de Janeiro trocou o comando Secretaria Estadual de Defesa Civil. Tarciso Salles assumiu no lugar de Leandro Monteiro, e foi anunciada a criação de um gabinete de crise para o combate Ă s chamas. Demitido no inĂcio do mĂȘs, o antigo secretĂĄrio lamentou o corte milionĂĄrio de recursos voltados para o enfrentamento dos incĂȘndios florestais.
“Foram destinados R$ 90 milhĂ”es para a corporação investir em viaturas e equipamentos de combate a incĂȘndios florestais. Infelizmente, nos Ășltimos dez dias, fui informado que esse apoio foi canceladoâ, afirmou Monteiro em seu discurso durante a cerimĂŽnia que selou a transferĂȘncia do cargo para Tarciso Salles, nesta quinta-feira (12), evento que que contou com a presença do governador ClĂĄudio Castro.
A verba teria sido liberada pela Secretaria de Estado de Ambiente e Sustentabilidade, durante o perĂodo em que o titular da gestĂŁo da pasta era o vice-governador Thiago Pampolha. Ele ocupou o cargo atĂ© março deste ano, quando foi exonerado e substituĂdo por Bernardo Chim Rossi.
Questionado ao fim da cerimĂŽnia, ClĂĄudio Castro considerou que o Corpo do Bombeiros tem recursos suficientes e minimizou o corte. âFoi algo administrativo, tem que entender o que foi. Mas nĂŁo falta nada para os bombeiros. Mais de R$ 1 bilhĂŁo foi investido na minha gestĂŁo.”
Qualidade do ar
Em meio ao grande volume de focos de incĂȘndio, boletim do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) divulgado Ă s 17h desta quinta-feira (12) registra impactos para a qualidade do ar. A situação Ă© pior do que hĂĄ trĂȘs dias. Das 57 estaçÔes espalhadas pelos municĂpios fluminenses, apenas 16 registraram qualidade do ar boa. No boletim de segunda-feira (9), 28 estaçÔes detectavam boas condiçÔes.
Os locais onde a qualidade do ar foi considerada moderada subiram de 26 para 31. JĂĄ aqueles onde a condição Ă© ruim aumentaram de trĂȘs para nove. Assim como no boletim de segunda-feira, o novo levantamento indica que nĂŁo hĂĄ estaçÔes que detectaram cenĂĄrio muito ruim ou pĂ©ssimo.
A queda na qualidade do ar pode deixar a população sujeita a apresentar um conjunto de sintomas como tosse seca, cansaço e ardor nos olhos, nariz e garganta. Crianças, idosos e pessoas com doenças respiratórias ou cardiológicas podem ser mais afetadas.
Em cenĂĄrios de clima seco e de incidĂȘncia de fumaça na atmosfera, as recomendaçÔes do MinistĂ©rio da SaĂșde sĂŁo para o aumento da ingestĂŁo de ĂĄgua e lĂquidos, para um maior tempo de permanĂȘncia em casa se possĂvel com ar-condicionado ou purificadores de ar e para a suspensĂŁo das atividades fĂsicas ao ar livre sobretudo entre 12h e 16h, quando as concentraçÔes de ozĂŽnio sĂŁo mais intensas.
O uso de mĂĄscaras do tipo cirĂșrgica, pano, lenços ou bandanas para diminuir a exposição Ă s partĂculas grossas tambĂ©m Ă© indicado, especialmente para populaçÔes que residem prĂłximas Ă s ĂĄreas de focos de queimadas.