Israel suspende entrada de ajuda humanitária em Gaza para pressionar Hamas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Israel suspendeu neste domingo (2) a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza e fez novas ameaças ao Hamas se o grupo terrorista continuar a recusar a proposta dos Estados Unidos de prolongar a primeira fase do cessar-fogo, que terminou oficialmente neste sábado (1º).

 

Com duração de 42 dias, esta previa, além da trégua temporária d as hostilidades, a libertação de 33 do total dos cerca de 100 reféns israelenses que continuavam nas mãos do Hamas, parte deles mortos –outros 5 tailandeses também acabaram sendo soltos pela facção no período.

Em troca, 2.000 palestinos detidos em prisões israelenses foram libertados, e Israel retirou suas tropas de algumas de suas posições em Gaza.

A segunda fase do cessar-fogo ainda precisava ser negociada. Ela previa a libertação dos 59 reféns israelenses que seguiam sob controle terrorista e a retirada das tropas israelenses de Gaza.

Depois do início do trato, porém, o enviado do governo Donald Trump ao Oriente Médio, Steve Witkoff, sugeriu estender a primeira fase de modo a abranger o feriado muçulmano do Ramadã, que termina no final de março, e a Páscoa judaica, que vai de 12 a 20 de abril. Neste novo esquema, metade dos reféns vivos e mortos seria solta pelo Hamas no primeiro dia, e o restante, no último.

O Estado judeu aderiu imediatamente à nova proposta. “Israel não permitirá um cessar-fogo sem a libertação de nossos reféns”, disse o gabinete do primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, ao anunciar o bloqueio de Gaza. “Se o Hamas persistir em sua recusa, haverá consequências adicionais.”

O grupo terrorista pediu a intervenção de mediadores do Egito e do Qatar e insistiu que está comprometido com o acordo original.

Ele classificou as ações de Israel de “chantagem barata” e afirmou que elas são um “golpe flagrante contra o acordo”. “Pedimos aos mediadores que pressionem a ocupação [Israel] a cumprir suas obrigações sob o acordo, em todas as suas fases”, disse em comunicado. O porta-voz do Hamas em Gaza, Sami Abu Zuhri, disse por sua vez que a organização “não responde a pressões”.

Ao longo da primeira fase, os lados se acusaram mutuamente de violar o acordo. Neste domingo mesmo, autoridades de Gaza ligadas ao Hamas disseram que forças israelenses mataram quatro palestinos em ataques separados no norte e no sul da faixa recentemente.

O Exército do Estado judeu admitiu ao menos um dos ataques, mas justificou-se dizendo que identificou suspeitos plantando uma bomba perto de suas tropas e os bombardeou para “eliminar a ameaça”.

O fim permanente da guerra segue, assim, cercado de dúvidas, incluindo o modelo de administração de uma Gaza pós-guerra e o futuro do Hamas, cuja incursão ao sul de Israel em 7 de outubro de 2023 desencadeou o início do conflito.

Os terroristas mataram 1.200 pessoas e sequestraram outras 251 na ocasião. A subsequente campanha militar de Israel em Gaza, por sua vez, teria matado mais de 48 mil palestinos, deslocado quase toda a sua população de 2,3 milhões e deixado a faixa palestina em ruínas.

Israel insiste que o Hamas não pode desempenhar nenhum papel no futuro pós-guerra de Gaza e que suas estruturas militares e governamentais devem ser eliminadas. Também rejeita trazer para Gaza a Autoridade Nacional Palestina, órgão criado sob os Acordos de Oslo há três décadas para servir como uma espécie de embrião do Estado palestino e que hoje exerce governança limitada na Cisjordânia ocupada.

O Hamas disse que não insistiria em continuar gerindo Gaza, que controla desde 2007, mas que teria que ser consultado sobre qualquer administração futura daquelas terras. A questão ficou ainda mais confusa depois que Trump sugeriu que os EUA passassem a controlar o território, removessem toda a sua população palestina e reurbanizassem toda a faixa costeira de modo a transformá-la em um destino turístico de luxo no Oriente Médio.

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