SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O regime da Venezuela censurou o jornal El Nacional, afirmou o diretor da publicação, Miguel Henrique Otero, nesta terça-feira (21). Ao falar sobre o assunto, o jornalista disse que não há imprensa livre no país.
Segundo Otero, o El Nacional não é submetido ao chavismo e está impedido de realizar qualquer tipo de ato junto ao Registro Público do país. O jornal é um símbolo da imprensa independente venezuelana, que sobrevive apesar das investidas do ditador Nicolás Maduro.
Na prática, essa ação impede que a empresa abra contas bancárias, transfira bens e faça operações, como assinar contratos e registrar movimentações de bens e pessoal, ainda de acordo com o diretor do jornal, para quem a situação é “totalmente arbitrária”.
“É a hegemonia comunicacional, o modelo cubano de longo prazo. E eles têm conseguido. Na Venezuela não há imprensa livre”, acusou o jornalista venezuelano ao comparar a crise com o monopólio estatal da imprensa em Cuba. “Estão dificultando o trabalho. Quando alguém deixa a empresa, por exemplo, também não podemos registrar sua saída”, disse Otero em entrevista ao jornal El Universal.
O jornalista afirmou ainda que esses são mecanismos para impedir o pleno exercício da empresa. Para ele, o bloqueio do jornal na internet e o confisco de suas instalações fazem com que o funcionamento do jornal na Venezuela se torne impossível.
“É uma ditadura atuando contra um meio de comunicação, utilizando todas as formas de abuso e obstrução para impedir o seu funcionamento”, disse ele. “Os meios independentes de comunicação estão totalmente paralisados e trabalhando com dificuldade. Eles têm seus processos administrativos bloqueados e os jornalistas são perseguidos.”
O regime costuma negar que persiga jornalistas e meios de comunicação.
Fundado em 1943, o El Nacional suspendeu sua edição impressa em 2018 devido à falta de papel na Venezuela, consequência de uma grave crise econômica que já dura mais de dez anos. Em abril de 2021, o Tribunal Supremo de Justiça, leal a Maduro, condenou o jornal a pagar US$ 13,3 milhões (o equivalente a R$ 70 milhões) ao deputado Diosdado Cabello por danos morais.
O tenente e ex-presidente da Venezuela processou o jornal em 2015 por difamação após o El Nacional reproduzir um texto do jornal espanhol ABC que noticiava uma investigação contra ele por supostos vínculos com o narcotráfico. Otero deixou a Venezuela quando a ação foi iniciada e permanece no exterior.