Laboratório na África do Sul abriga amostras de Ebola e outros vírus letais

ANA BOTTALLO
JOANESBURGO, ÁFRICA DO SUL (FOLHAPRESS) – Imagine um espaço onde são guardadas centenas, até milhares, de amostras de vírus altamente letais. Qualquer descuido pode gerar um acidente fatal. O controle rigoroso de quem entra e de quem sai e estruturas especiais de contenção do ar contaminado são necessários para evitar os chamados vazamentos.

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Alguns vazamentos já aconteceram na história, a exemplo de um em 1977. Naquele ano, uma cepa altamente transmissível de influenza H1N1 que estava sendo estudada para o chamado ganho de função escapou e provocou vários casos de doença respiratória em humanos.

Por isso mesmo, a segurança em laboratórios que trabalham com vírus, bactérias e outros patógenos capazes de provocar surtos em humanos deve ser reforçada. Os laboratórios de microbiologia e parasitologia são classificados conforme o nível de segurança biológica, sendo quatro o último e mais seguro deles.

O Instituto Nacional de Doenças Comunicáveis (Nicd, em inglês), em Joanesburgo, na África do Sul, abriga o único laboratório de biossegurança quatro em todo o continente africano.

Fundado em 1979 e o segundo do mundo criado na categoria de biossegurança nível quatro, o Laboratório de Virologia do Centro de Estudos em Doenças Zoonóticas e Parasitárias Emergentes, ligado ao Nicd, tem um papel fundamental para conduzir pesquisas com patógenos já erradicados ou ainda circulantes, explica Jacqueline Weyra, diretora do centro.

“Atualmente, por exemplo, a divisão está trabalhando no surto de Mpox, que não é uma virose endêmica, então está na categoria de emergente. Zoonótico significa doenças que são transmitidas entre animais e humanos, como é o caso das arboviroses [entre as quais dengue e febre amarela] e doenças transmitidas por carrapatos. Já parasitários se referem principalmente à malária, e também temos um programa para combater a resistência do parasito”, afirma.

Lá, amostras de vírus da febre do Nilo ocidental, vírus Lassa (da família Arenaviridae) e Ebola são armazenadas e podem ajudar em uma resposta rápida frente a novos surtos, como o que ocorreu recentemente na República Democrática do Congo e em Uganda.

“Um dos vírus que temos é da febre bovina, que foi erradicada, mas pode voltar. Outros são febres hemorrágicas com letalidade elevada [80%]. Por isso é fundamental ter a segurança máxima”, diz.

A principal diferença entre um laboratório de nível três -equipado com um sistema de controle para evitar contaminação tanto do que vem de fora para as amostras em estudo quanto dos profissionais trabalhando, para evitar surtos de doença- para o de nível quatro é que os funcionários contam com uma fonte externa de ar, para evitar respirar o ar potencialmente contaminado.

Os cientistas do laboratório de virologia utilizam roupas protetoras especiais e são treinados para evitar acidentes laboratoriais com vírus altamente patogênicos Reprodução/Centro de Doenças Zoonóticas e Parasitárias Emergentes “O vírus Ebola precisa ser contido em um laboratório de nível quatro. Se você tiver uma estrutura inferior [como o nível três, muito utilizado para coronavírus e outros vírus respiratórios], pode ter problemas com as agências internacionais de controle”, brinca ela.

Ao entrarem no local, os trabalhadores usam um EPI (equipamento de proteção individual) semelhante ao que era indicado para os profissionais da saúde durante a pandemia de Covid: macacão, máscara, luvas, touca e óculos) acrescido de uma roupa especial conectada com um duto de ar e semelhante à de astronautas.

“Você fica parecendo o boneco ‘Michelin’, porque a roupa infla, ela precisa ter pressão positiva. Essa é a principal diferença”, diz Edison Durigon, professor do departamento de microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.

“No nível três, o pesquisador pode trabalhar respirando o ar do laboratório. No quatro, não. É como se fosse uma concha”, continua o docente. “Existem dutos para saída do ar para uma outra câmara, impedindo a contaminação com os outros laboratórios. No processo de limpeza depois do nível três, o pesquisador retira o EPI e toma uma ducha para trocar de roupa. Já no quatro ele recebe um ácido [hipoclorito a 5%] na roupa por cinco minutos, depois ele sai e toma uma ducha e só então ele pode remover o EPI. É uma camada a mais de proteção.”

Há hoje uma concentração desses estabelecimentos no Hemisfério Norte, afirma Durigon. “O Brasil não dispõe de um laboratório de nível quatro. Na verdade, a América Latina inteira carece de um, não temos nenhum no Brasil, nem no México, nem em outro lugar. Os custos de laboratórios como esses são muito elevados, e essa é uma das razões por que países pobres não têm.”

Durigon criou o primeiro laboratório de nível três no país em 2017, acoplado ao seu departamento em São Paulo, com apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Na pandemia de Covid, o centro alcançou protagonismo ao isolar o vírus e criar exames de diagnóstico para a doença.
Isso pode mudar, já que há planos do governo brasileiro de construir o único laboratório de nível quatro acoplado a um acelerador de partículas do mundo. Batizado de Orion, o projeto é ligado ao CNPEM (Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais), em Campinas (SP), e tem apoio principalmente do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação.

No começo de julho deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou um aporte de R$ 1 bilhão para a obra até 2026. Mas recentemente o governo anunciou uma série de congelamentos de gastos.

Procurada, a assessoria do CNPEM disse que o Orion é financiado com recursos do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e que desconhece informações sobre contingenciamento.
O professor do ICB afirma que o custo para erguer um laboratório desse tipo é alto. “Se para construir um laboratório nível três são necessários cerca de R$ 6 milhões a R$ 10 milhões por metro quadrado, no nível quatro esse custo sobe para R$ 300 milhões a R$ 600 milhões pelo mesmo espaço, e o orçamento total é de R$ 1 bilhão.”

Segundo ele, se o país deseja se inserir como um local estratégico para pesquisas de vírus e doenças emergentes nos próximos anos, é preciso investir em novos espaços de segurança máxima. “O ideal é que tivesse, no mínimo, um por região, mas idealmente, pensando na dimensão continental do Brasil, o Sudeste, por ser uma área densamente populosa e por abrigar as maiores universidades e instituições do país, poderia ter três.”

A jornalista viajou para a África do Sul pelo ICFJ (International Center for Journalists) através do edital de Inovação em Saúde

 

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