Várias autoridades de alto escalão da Ucrânia deixaram seus cargos nesta terça-feira (24) na maior mudança de liderança da guerra com a Rússia até agora, no que um assessor do presidente Volodymyr Zelenskiy chamou de uma resposta aos apelos públicos por “justiça”.
Algumas das demissões, embora não todas, estavam ligadas a alegações de corrupção. A Ucrânia tem um histórico de corrupção e governança instável e está sob pressão internacional para mostrar que pode ser um administrador confiável de bilhões de dólares em ajuda ocidental.
“Já existem decisões relativas a pessoal – algumas hoje, outras amanhã – sobre funcionários de vários níveis em ministérios e outras estruturas do governo central, bem como nas regiões e na área de segurança”, disse Zelenskiy em um discurso de vídeo durante a noite.
O assessor de Zelenskiy Mykhailo Podolyak tuitou: “O presidente vê e ouve a sociedade. E ele responde diretamente a uma demanda pública importante – justiça para todos”.
Entre os que pediram demissão ou foram demitidos na manhã de hoje estavam um vice-procurador-geral, um vice-ministro da Defesa e o vice-chefe de gabinete de Zelenskiy.
As mudanças ocorreram dois dias depois que um vice-ministro da Infraestrutura foi preso e acusado de desviar US$ 400 mil dólares de contratos para comprar geradores, um dos primeiros grandes escândalos de corrupção a se tornarem públicos desde o início da guerra, 11 meses atrás.
O Ministério da Defesa disse que o vice-ministro da Defesa, Vyacheslav Shapovalov, responsável pelo fornecimento de tropas, renunciou na manhã desta terça-feira como uma “ação digna” para manter a confiança, após acusações da mídia de corrupção que ele e o ministério rejeitaram. Segundo reportagem de jornal, o ministério pagou montantes em excesso por comida para as tropas, o que o ministério e seu fornecedor negaram.
A promotoria anunciou que o vice-procurador-geral Oleksiy Symonenko havia sido destituído do cargo, sem dar nenhum motivo. Symonenko foi criticado pela mídia ucraniana por tirar férias na Espanha.
Embora Zelenskiy não tenha mencionado nenhuma autoridade em seu discurso, ele anunciou a proibição de funcionários tirarem férias no exterior.
“Ninguém pode se dar ao luxo de ignorar a guerra”, disse ele. “Se eles quiserem descansar, vão descansar fora do serviço público.”
Kyrylo Tymoshenko, vice-chefe de gabinete de Zelenskiy, anunciou sua própria renúncia, também sem citar motivos. Ele ajudou a dirigir a campanha eleitoral do presidente em 2019 e, mais recentemente, desempenhou um papel na supervisão da política regional.
As mudanças são um raro abalo de uma liderança notavelmente estável durante a guerra em Kiev. Fora a destituição de uma agência de espionagem em julho, Zelenskiy manteve-se em grande parte com sua equipe, construída em torno de colegas políticos novatos que o ex-ator de televisão levou ao poder quando foi eleito em 2019, prometendo erradicar uma classe política corrupta.
Kiev diz que uma onda de sentimento patriótico diminuiu a corrupção desde a invasão da Rússia. Mas o chefe do partido Servo do Povo, de Zelenskiy, prometeu na segunda-feira que autoridades seriam presas em uma próxima campanha anticorrupção, que recorreria à lei marcial se necessário.
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