Metade das crianças com síndrome do zika não frequenta escola no Rio

Mais da metade das crianças da Baixada Fluminense com a síndrome congênita associada à infecção pelo vírus Zika não frequenta a escola.

Uma pesquisa liderada pela professora Márcia Pletsch, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), tenta reverter esse quadro a partir de várias frentes de ação.

Além da avaliação dessas crianças e análise da realidade das famílias, a pesquisa desenvolve ações de acompanhamento da escolarização e desenvolvimento nas escolas, focando também na formação de professores, além de avaliar as ações intersetoriais dos municípios.

Um dos motivos para que essas crianças em idade escolar estejam fora do ensino formal, segundo Marcia Pletsch, foi a adoção do ensino remoto em 2020, que acabou se estendendo em alguns locais até meados do ano passado.

Mas, de acordo com a pesquisadora, além de outros problemas, como dificuldades econômicas e de locomoção, também há medo e insegurança por parte das famílias.  

“A gente tem esclarecido, e tem dados da pesquisa [de quem matriculou a criança] dos aspectos positivos dessa matrícula. As próprias famílias, as mães das crianças, nos colocaram a importância da entrada de seus filhos na escola, não só para o desenvolvimento dessas crianças, mas também para a melhora da sua condição de saúde, de seu bem estar. E também para as próprias mães, que têm agora um tempo pra si”.

Um dos grandes desafios na escolarização das crianças com a síndrome congênita do zika vírus, segundo Marcia Pletsch, é pensar ações e políticas municipais envolvendo educação, saúde, assistência social, além de secretarias, como as de transporte.

“A questão da intersetorialidade está prevista na legislação brasileira, tanto na Lei Brasileira de Inclusão, como também na Política Nacional de Educação Especial em uma Perspectiva Inclusiva, de 2008, e a gente ainda tem uma fragilidade enorme das ações desenvolvidas localmente. De maneira geral, quando elas ocorrem, elas ocorrem focando a assistência e a saúde, e não envolvem a educação. Há a necessidade de articular essas políticas e essas ações intersetoriais junto com a educação.”

O projeto já criou um aplicativo com 100 atividades para trabalhar a comunicação e ampliar a interação dessas crianças com os familiares e em sala de aula. Além disso, também gerou formação continuada para mais de 1,4 mil profissionais de educação que atuam em diferentes redes de ensino do Estado.

As iniciativas para a escolarização dessas crianças reúnem 11 municípios, sendo nove da Baixada Fluminense e dois da região Sul do estado.

A pesquisa é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ).

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