Mortes de 96 bebês em Cabo Frio vai a julgamento internacional

Corte Interamericana de Direitos Humanos decidirá, em setembro, sobre caso ocorrido entre 1996 e 1997

A Corte Interamericana de Direitos Humanos vai julgar, em 26 de setembro, o Estado brasileiro pela morte de 96 bebês em 1996 e 1997, na Clínica Pediátrica da Região dos Lagos (Clipel), em Cabo Frio, uma instituição privada que recebia repasses do SUS naquele período. Segundo as alegações da Comissão Interamericana de Direitos Humanos — a CIDH, ligada à Organização dos Estados Americanos (OEA) e que pede a condenação do país, houve violações durante as investigações das mortes que, de acordo com o órgão, ocorreram em “consequência da negligência médica de funcionários” da unidade de saúde.

O caso foi revelado em abril de 1997, após parentes das vítimas denunciarem as mortes ao Ministério Público do Rio (MPRJ). Até hoje, ninguém foi responsabilizado. A CIDH havia recomendado ao Brasil, no entanto, uma “reparação integral” aos familiares, com indenização em dinheiro, assistência psicológica e até a abertura de uma nova investigação.

Perto de o caso ser julgado no tribunal internacional de proteção de direitos humanos, foi apurado que as alegações do governo e dos parentes das vítimas já foram enviadas à Corte. Em relatório obtido pelo jornal, a CIDH afirma que, embora a clínica não seja uma instituição pública, o Estado falhou em não “adotar medidas concretas” para apurar as denúncias. “A ausência de verdade e justiça ocasionou sofrimento aos familiares das vítimas”, destaca o documento, que também questiona o fato de as autoridades responsáveis não cumprirem o dever de fiscalizar as condições sanitárias da clínica, que continuou recebendo pacientes e ainda está em funcionamento.

A mãe de um dos bebês, que pediu anonimato, ressalta qual é a luta de mães e pais daquelas crianças mortas (82, segundo o grupo contabiliza atualmente):

— Somos um grupo de mães e pais denunciando o Estado de encobrir e ocultar o que o Ministério Público chamou na época de “açougue humano”. Os agentes mentindo até hoje, e levando agora para a Corte um verdadeiro exército de advogados especialistas em direitos humanos que defenderão o indefensável, sem provas — afirma a mãe de um dos bebês mortos, que pediu anonimato.

Bactéria: contaminação

Segundo as denúncias, não se sabe ao certo quantos bebês nasceram saudáveis, mas houve muitas internações desnecessárias. Até bebês sadios teriam sido contaminados por bactérias típicas de infecção hospitalar, principalmente a Klebsiella pneumoniae. Além disso, as mães tiveram, em sua maioria, partos normais, não sépticos. Ou seja, não se sabe de nenhuma que tenha apresentado sintomas de infecção antes ou depois do parto.

O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), por sua vez, diz que, em caso de uma condenação, o Brasil terá a obrigação de cumpri-la. “Se houver condenação, o Estado brasileiro deve cumprir as determinações da Corte, com articulação entre os órgãos competentes para garantir a reparação”. De acordo com a pasta, essas sentenças têm “impacto direto na política interna brasileira”.

A Clipel afirma que o pedido de condenação do Estado brasileiro não diz respeito aos sócios da clínica. “Discordamos da afirmação no sentido de que houve negligência médica de funcionários da Clipel, posto que todos os médicos injustamente acusados foram absolvidos pela Justiça do Estado do Rio, tanto na primeira quanto na segunda instância, e em decisão unânime. Não é justo, e fere o bom senso e a razão, o fato de, passados quase 30 anos, vir uma Comissão de Direitos Humanos divulgar uma condenação esdrúxula e arbitrária, que sequer deu direito de defesa aos médicos da Clipel, que sequer os ouviu acerca dos fatos”, diz em nota.

‘Mortes anormais’

As primeiras informações sobre a morte dos bebês, divulgadas em abril de 1997, denunciavam a morte de cerca de 80 bebês em um período de nove meses. Conforme reportagem na época, o diretor e sócio da clínica, doutor Luiz Cavalcante Lopes, argumentou que tais mortes representavam “apenas” 30% do total de internações.

No entanto, a taxa de mortalidade seria três vezes maior que o limite considerado aceitável. Para efeito de comparação, o Instituto Fernandes Figueira, vinculado à Fundação Oswaldo Cruz (IFF/Fiocruz) e referência em partos de alto risco, tinha uma taxa de óbitos de 1% do total de internações, exceto em casos de malformações congênitas.

Segundo denúncias dos familiares, o cenário foi causado por negligência, superlotação e falta de higiene. Alguns médicos e enfermeiros compartilhavam jalecos, não lavavam as mãos durante os contatos com os bebês e não usavam máscaras, conforme relatos de pacientes. Fador Sampaio, promotor de Cabo Frio e responsável pela abertura do inquérito, afirmou na época que “o número de mortes era estarrecedor”.

Apesar disso, a Secretaria de Saúde da cidade constatou, em uma rápida perícia, que a clínica cumpria “todas as normas de higiene”. Após os laudos que isentaram a clínica de responsabilidade, a então deputada estadual e médica sanitarista Lúcia Souto (PPS) solicitou, em julho de 1997, uma perícia paralela junto ao IFF/Fiocruz. A Vigilância Sanitária estadual contestou a solicitação, alegando que novas ações não trariam um parecer diferente.

Em agosto de 1997, a nova análise concluiu que o número de mortes era “totalmente anormal”. O documento foi baseado em resultados de exames de sangue, resumos das internações e laudos das vistorias e atestou dezenas de mortes por infecção generalizada e pela bactéria Klebsiella pneumoniae — presente em mais de 50 exames. Em dezembro de 1996, por exemplo, dez dos 11 óbitos foram por infecção generalizada.

Acusados absolvidos

A perícia foi anexada ao inquérito policial da época, e, um mês depois, Lopes e outros sete médicos foram indiciados por homicídio culposo. O Ministério Público só apresentou sua denúncia dois anos depois, em dezembro de 1999. Em fevereiro de 2003, os oito médicos foram absolvidos. Houve recurso e, em março de 2005, o Tribunal de Justiça manteve a absolvição dos acusados.

Ainda em 1999, uma reportagem mostrou que Lúcia Souto — hoje médica sanitarista e pesquisadora da Fiocruz — atribuiu as dificuldades e a lentidão na apuração do caso ao corporativismo entre os médicos e ao “prestígio social e político dos profissionais envolvidos” em Cabo Frio.

A primeira denúncia chegou à CIDH em 2000. A partir daí, o órgão passou a apresentar suas observações sobre o caso, mantendo a comunicação entre o Estado brasileiro e as famílias.

Diversas denúncias

Naquele fim da década de 1990, as mortes em Cabo Frio não foram as únicas no Rio. Ainda em 1997, o então secretário estadual de Saúde, Ivanir de Mello, determinou que a Vigilância Sanitária visitasse todas as 60 UTIs neonatais do Rio de Janeiro. No fim dos anos 1990, foi mostrado diversas denúncias de superlotação em unidades como essas no estado, incluindo na capital. Em uma das inspeções na Clipel, inclusive, a Vigilância ordenou a retirada de cinco incubadoras que excediam a capacidade oficial da clínica.

Em mais um caso, em dezembro de 1999, o então ministro da Saúde, José Serra, exonerou o diretor do então Hospital Geral de Bonsucesso (HGB) por não ter acionado as autoridades após a morte de sete bebês por infecção hospitalar. Na mesma época, cinco recém-nascidos morreram em menos de 72 horas no Hospital Maternidade Oswaldo Nazareth, que ficava na Praça Quinze.

Fonte: Extra

Fique por dentro!

Para ficar sabendo de tudo que acontece em Campos e região, siga o nosso instagram @ClickCampos

SIGA NOSSAS REDES SOCIAIS

ClickCampos: Um portal de notícias de Campos 24 horas por dia

ClickCampos é conhecido por sua cobertura abrangente de eventos locais e outros temas significativos. Além disso, este resumo abordará a estrutura, conteúdo e relevância do site, com atualizações de Campos 24 horas por dia.

Estrutura do ClickCampos

O site desempenha um papel crucial na comunicação regional, servindo como a principal fonte de notícias para Campos dos Goytacazes 24 horas por dia. Portanto, abrange temas variados como política, economia, cultura e esportes, estabelecendo-se como um ponto de referência essencial para os residentes e interessados em notícias locais.

Interface e Usabilidade

A interface do ClickCampos é projetada para facilitar a navegação. Ela apresenta categorias de notícias de maneira clara e inclui uma função de busca eficiente. Consequentemente, a usabilidade do site é vital para seu sucesso, impactando diretamente na experiência do usuário.

Conteúdo e Engajamento com notícias de Campos 24 horas por dia.

O conteúdo do ClickCampos é constantemente atualizado, garantindo que as informações sejam sempre pertinentes e atuais. Além disso, o site proporciona uma variedade de artigos, editoriais e uma seção de vídeos, que enriquecem a oferta de conteúdo e aumentam o engajamento dos usuários de Campos 24 horas por dia. Por outro lado, a seção de comentários estimula a formação de uma comunidade ativa.

Redes Sociais

A presença de ClickCampos nas redes sociais é crucial para ampliar seu alcance e eficácia. Ademais, as redes sociais modernizam o acesso às informações, aumentam a visibilidade das notícias e facilitam o engajamento direto com a comunidade.

Ampliação do Alcance

As redes sociais permitem que ClickCampos alcance uma audiência mais ampla e diversificada. Por exemplo, ao compartilhar notícias no Facebook e no Twitter, o site consegue atrair especialmente os jovens, que talvez não o acessassem diretamente.

Engajamento e Interatividade

As redes sociais oferecem uma plataforma para engajamento direto com o público. Usuários podem comentar, compartilhar e interagir, o que não só aumenta a visibilidade das notícias, mas também promove discussões valiosas para a comunidade.

Resposta Rápida e Cobertura em Tempo Real

ClickCampos utiliza as redes sociais para fornecer atualizações rápidas e cobertura de eventos ao vivo, sendo essencial durante emergências. Essa prática reforça sua posição como uma fonte de notícias locais confiável. Notícias de Campos 24 horas por dia

Conclusão

ClickCampos é mais do que um simples site de notícias com atualizações de Campos 24 horas por dia; é uma plataforma integral para a comunidade de Campos dos Goytacazes. Além disso, a dedicação à reportagem local não só informa, mas também molda a interação comunitária. Finalmente, a otimização contínuaque o site expanda seu impacto e mantenha sua relevância na era digital.