(FOLHAPRESS) – A Nature “despublicou” -o que no universo científico significa que retratou- nesta segunda-feira (24) uma influente pesquisa sobre Alzheimer, inicialmente publicada em 2006. Segundo a revista científica, imagens do estudo apresentavam manipulação excessiva, como corte, duplicação e uso de ferramenta para apagar partes de figuras.
Ser retratado, em linhas gerais, significa que os resultados do trabalho devem ser desconsiderados.
O artigo, dessa forma, torna-se o segundo com mais citações (pouco mais de 2.300) a ser retratado -considerando a contagem até o momento da despublicação-, segundo o site Retraction Watch, que acompanha os movimentos de retratação em revistas. Essa lista está atualizada até 19 de junho, o que faz com que a pesquisa “despublicada” pela Nature ainda não esteja presente.
“Os dados não podem ser verificados nos registros. Consideramos que o curso de ação apropriado é retratar o artigo”, diz a Nature, em nota.
A Folha de S.Paulo mostrou, na semana passada, as críticas existentes sobre o estudo, o silêncio de seu primeiro autor, Sylvain Lesné, em relação às acusações, e o movimento de sua autora correspondente, Karen Ashe, que inicialmente defendia que a pesquisa não deveria ser “despublicada”, mas que, recentemente, havia afirmado que o paper deveria ter como fim a retratação. Ashe, porém, publicou estudo semelhante, com outros coautores, em outra revista, após refazer os experimentos que levaram aos resultados inicialmente mostrados na Nature.
A Nature afirma, em nota, que Lesné foi o único autor a não concordar com a retratação. Segundo a revista, Austin Yang, outro dos autores, não respondeu às tentativas de contato da Nature.
Ashe, que é professora do Departamento de Neurologia da Universidade de Minnesota (Estados Unidos), havia tornado pública, recentemente, a decisão sobre o pedido de retratação no PubPeer, uma espécie de fórum online para discussões de artigos científicos revisados por pares.
A docente afirmou ter tomado conhecimento das acusações contra o estudo em 2022. Também desde 2022 havia uma nota na página do estudo alertando que havia preocupações com relação a algumas imagens presentes na pesquisa.
O estudo retratado apontava que a A?*56 (leia beta-amilóide estrela 56) exercia um papel relevante na deterioração da memória no Alzheimer, mesmo sem a formação de placas beta-amilóides ou perdas neuronais. Essa proteína também poderia contribuir, segundo o estudo desenvolvido em camundongos, para os déficits cognitivos do Alzheimer.
Isso, consequentemente, colocaria a A?*56 como um potencial alvo terapêutico contra o Alzheimer.