Nicole Kidman conta o que a atraiu em ‘Babygirl’

VITOR MORENO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com uma carreira consolidada em Hollywood, Nicole Kidman, 57, pode escolher o que quer (e, principalmente, o que não quer) fazer na frente das câmeras. É por isso que muita gente se espantou com uma de suas escolhas mais recentes: o thriller erótico “Babygirl”, que estreia no dia 9 nos cinemas brasileiros.

 

No filme, a atriz interpreta a executiva Romy, que tem uma vida de comercial de margarina, mas bota tudo em risco quando começa a ter um caso com Samuel (Harris Dickinson), o novo estagiário da empresa. A diretora Halina Reijn não economiza nas cenas de sexo e nudez, deixando sua estrela completamente vulnerável em muitos momentos.

Pois foi justamente essa perspectiva que atraiu a atriz para o projeto. “Eu apenas senti que era uma área que eu nunca havia explorado”, conta ela em bate-papo com a imprensa internacional, do qual a reportagem participou. “Lembra esse gênero de thriller dos anos 1990, mas é uma exploração feminina da sexualidade, dos desejos e de si mesma.”

Ela define a jornada como uma “montanha-russa” e diz que todo o processo de filmagens foi muito rápido, em parte porque as gravações foram em Nova York, o que encareceu bastante o projeto. Para economizar, o escritório do estúdio foi usado como o de sua personagem. “É o que chamamos de baixo orçamento”, ri.

“Tivemos tempo antes de começar, mas uma vez que estávamos filmando, era como um trem de carga”, compara a atriz. “Estávamos completamente imersos, o que de certa forma ajudou, porque tira muito do excesso de pensamento. E é um filme muito visceral.”

Kidman diz que se sentiu segura para filmar momentos como um em que aparece se masturbando e a já clássica sequência em fica de quatro no chão para beber leite em um pires. Essa confiança, afirma, veio tanto do parceiro de cena e da condução da diretora.

“É um espaço muito sagrado”, comenta sobre o set fechado em que só estavam as pessoas que realmente precisavam estar ali. “E, uma vez que você diz ao outro ator ‘estamos juntos nisso’, é inviolável. Nós discutimos tudo com o que nos sentíamos confortáveis ou desconfortáveis. Fomos bastante abertos.”

Sobre Harris Dickinson, disse que os dois tiveram uma ótima relação desde o momento em que se conheceram. “Eu me senti incrivelmente confortável porque ele é um cavalheiro”, elogiou. “E ele está muito ciente de cuidar de você, sabe?”

Kidman conta que a experiência de ter uma mulher à frente dos trabalhos fez muita diferença. “Já fiz filmes que lidaram com sexualidade, mas eu nunca tinha feito um com uma [diretora] mulher”, conta, lembrando que Reijn, além de tudo, também era a autora do projeto e já foi atriz, o que facilitava o entendimento de vários processos.

“Ela entendia todos nós e também estava disposta a reescrever ou mudar coisas conforme necessário”, afirma. “E ela estava bem ali, no meio de tudo, conosco o tempo todo, o que acho que tornou tudo muito, muito claro. As motivações eram claras e o que estávamos tentando alcançar era muito claro.”
“Foi um lugar realmente incomum para mim, porque eu fiz muitos filmes, mas nunca fiz nada assim”, resume. “E eu provavelmente só faria isso com uma mulher no comando.”

No bate-papo, Kidman também destacou o papel do diretor de fotografia Jasper Wolf, que “era capaz de meio que se mover conosco muito rapidamente”. “Houve momentos em que estávamos fazendo cenas muito íntimas, e a câmera estava bem aqui”, diz, aproximando a mão do rosto. “Como tínhamos construído uma relação e um entendimento tão bons, eu nem percebia a câmera.”

Isso só ficou claro para ela quando assistiu ao material finalizado. “Metade do tempo, eu não percebi o que estávamos filmando, o que é ótimo”, afirma. “Quando vi o filme pela primeira vez, fiquei tipo: ‘Uau!’.”

DESTRUIÇÃO COMPLETA
A atriz também comentou o que leva Romy, uma mulher que aparentemente tem tudo, a entrar nessa aventura que pode arruiná-la em mais de um sentido. “O filme é também sobre a crise existencial de uma pessoa que está lutando com o fato de que alcançou praticamente tudo o que quer alcançar na carreira”, avalia.

“Estou desempenhando todos os meus papéis perfeitamente: tenho filhos, tenho um marido, tenho um lindo apartamento em Nova York, tenho tudo… mas sinto que há uma inquietação”, continua. “Acho que isso é muito relacionável para muitas pessoas.”

De repente, ela vê em Samuel uma válvula de escape para tudo isso. “Você pode dizer que ele é um anjo, você pode dizer que ele é o diabo, você pode dizer o que quiser… Mas ele tem essas qualidades que estão lá para perturbar. E elas perturbam”, comenta. “Mas isso porque há uma disposição dela para ser perturbada.”

Para a atriz, a partir desse encontro, dá-se “uma exploração que eu não vi de uma mulher na tela”. Romy passa a jogar luz sobre áreas obscuras dentro dela própria e a se questionar coisas como: “Quem sou eu? O que sou eu? O que eu realmente quero? Eu quero me sabotar? O que eu desejo? O que me excita? O que não me excita?”.

“É um constante empurra e puxa em seu estado psicológico, a ponto de ela ser atraída para a destruição completa”, diz. “É como se, para se encontrar, ela precisasse quase perder tudo e ter alguém segurando tudo o que ela possui na palma da mão, e ocorre que esse alguém é esse jovem.”

Kidman define “Babygirl” como “um filme sobre prazer”. Para ela, inclusive, o longa não teria as mesmas nuances se tivesse outras pessoas por detrás. “Ele tem essa textura muito forte que não vejo uma americana escrevendo”, afirma. “Ele só tem isso por causa do background de Halina [que é holandesa], por causa de onde ela vem, de sua capacidade de ver a sexualidade de uma maneira diferente, acho que vem de uma perspectiva muito europeia.”

Ela adverte que nem todas as cenas de sexo são exatamente agradáveis de se assistir. “Você deve se sentir desconfortável às vezes, porque esse é meio que o ponto”, adianta. “Você deve rir. Você deve pensar. Há momentos em que você deve se sentir perturbado, desconfortável, excitado… hipnotizado, espero. É definitivamente parte da nova onda de filmes que estão sendo feitos sobre sexualidade. E, bem, o que é a nossa sexualidade?”

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