SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um tremor de magnitude 6,4 e outro de 5,8 atingiram a fronteira da Turquia e da Síria nesta segunda-feira (20) e deixaram três mortos e 213 feridos, segundo o ministro do Interior turco, Suleyman Soylu. Há duas semanas, um forte terremoto matou mais de 47 mil pessoas nos dois países.
A região, localizada sobre a placa tectônica da Anatólia, é uma das que apresentam maior atividade sísmica no mundo e registrava uma série de tremores secundários desde o sismo do dia 5 de fevereiro -os sucessivos terremotos dificultaram as operações de resgate.
Em Samandag, onde a Afad (Agência de Gerenciamento de Desastres da Turquia) registrou uma morte, os moradores relataram mais prédios colapsados -a maior parte da população, porém, já havia fugido após os primeiros terremotos. Escombros e móveis descartados cobriam as ruas escuras e abandonadas.
O governo da Turquia registrou mais de 6.000 tremores secundários nas últimas duas semanas. Até aqui, no entanto, eles não haviam desencadeado novas cenas de destruição, como se vê desta vez. Muna Al Omar, que estava na região de Antáquia, ao sul da Turquia, estava com o filho de 7 anos de idade em uma barraca improvisada no momento do tremor. “Achei que a terra ia se abrir sob os meus pés”, afirmou ele.
A polícia patrulhou a região enquanto ambulâncias corriam para a área atingida pelos novos terremotos, perto do centro da cidade. Duas pessoas desmaiaram, e outras lotaram as ruas ao redor de um parque, telefonando para os serviços de emergência. Lütfü Savas, prefeito de Hatay, província da qual Antáquia é a capital, disse ter recebido relatos de pessoas presas sob os escombros.
O Centro Sismológico Europeu do Mediterrâneo informou que o tremor de magnitude de 6,4 desta segunda, que também foi sentido no Egito e no Líbano, ocorreu a uma profundidade de 10 km. A Afad afirmou que o epicentro do terremoto foi no distrito de Defne, em Hatay, sudeste do país.
Já o segundo tremor, de magnitude 5,8, registrou profundidade de 9 km, ainda segundo o centro europeu.
Horas antes, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, em visita à Turquia, disse que Washington ajudará o país “pelo tempo que for necessário”, já que as operações de resgate estão diminuindo, e os esforços, direcionados para ajudar quem perdeu suas casas e para trabalhos de reconstrução.
Segundo o Departamento de Estado dos EUA, a assistência humanitária oferecida pelos americanos para a resposta ao terremoto na Turquia e na Síria chegou a US$ 185 milhões (R$ 956 milhões). Especialistas afirmam que reconstruir a Turquia vai exigir do governo de Recep Tayyip Erdogan um investimento bilionário -mais precisamente, de US$ 84,5 bilhões, ou cerca de R$ 437 bilhões.
No domingo (19), o governo anunciou o encerramento das operações de resgate de vítimas. Segundo a Afad, as operações seguiriam apenas nas províncias mais atingidas:
Kahramanmaras e Hatay. Apesar da devastação, resgates de sobreviventes suscitavam esperança na população. No sábado (18), por exemplo, 296 horas após o desastre, um casal e seu filho foram encontrados com vida sob ruínas em Antáquia.
A catástrofe acontece às portas das eleições gerais, inicialmente marcadas para 14 de maio, e a resposta de
Erdogan à catástrofe, considerada por muitos insuficiente, deve influenciar seu desempenho nas urnas.
Nos últimos anos, ele perdeu apoio popular após os impactos da crise econômica decorrente da Guerra da Ucrânia e da Covid. Com 385 mil apartamentos destruídos ou gravemente danificados e muitas pessoas ainda desaparecidas, espera-se que a cifra de mortos suba ainda mais. De acordo com o líder turco, as obras de reconstrução de quase 200 mil apartamentos em 11 províncias começarão no próximo mês.
Entre os sobreviventes estão 356 mil mulheres grávidas que precisam de acesso a serviços de saúde com urgência, segundo a agência de saúde sexual e reprodutiva da ONU. A cifra inclui 226 mil mulheres na Turquia e 130 mil na Síria -38,8 mil delas devem dar à luz em março. Muitas estavam abrigadas em acampamentos, expostas a temperaturas baixas e com pouco acesso a comida ou água potável.
Na Síria, que há mais de 12 anos enfrenta uma guerra civil, a maioria das mortes ocorreu no noroeste do país. As Nações Unidas dizem haver 4.525 vítimas na região, controlada por rebeldes em conflito com as forças aliadas ao ditador Bashar al-Assad -o que dificulta a chegada de ajuda. Em áreas sob o controle do regime sírio, as autoridades locais disseram ter havido 1.414 mortes.
A ONG Médicos Sem Fronteiras afirmou que um comboio de 14 caminhões entrou no noroeste do país para ajudar nas operações de resgate. O Programa Mundial Alimentar, da ONU, também pressiona as autoridades para que parem de bloquear o acesso à ajuda. Até a manhã de segunda, 197 caminhões com ajuda humanitária das Nações Unidas haviam entrado na região, segundo um porta-voz do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da organização.
Milhares de refugiados sírios que estavam na Turquia voltaram para suas casas na Síria para tentar entrar em contato com parentes afetados pela devastação, o que causou fila na fronteira entre os dois países.
Mustafa Hannan, 27, que deixou na fronteira sua esposa grávida e seu filho de três anos, disse ter visto cerca de 350 pessoas na fila. Com o colapso de sua casa em Antáquia, o eletricista afirmou que ele e sua família querem deixar a Turquia por alguns meses. “Estou preocupado que eles não possam voltar [comigo]”, disse ele. “Já fomos separados da nossa nação. Vamos nos separar de nossas famílias agora também? Se eu reconstruir a nossa casa, mas eles não puderem voltar, minha vida estará perdida.”