Durante a pandemia, antibiĆ³ticos foram usados de forma generalizada e excessiva em pacientes internados com covid-19, o que pode ter potencializado a propagaĆ§Ć£o de resistĆŖncia microbiana. Ć o que diz levantamento divulgado pela OrganizaĆ§Ć£o Mundial da SaĆŗde (OMS) na sexta-feira, 26.
A pesquisa foi feita com base em cerca de 450 mil pacientes internados devido Ć covid-19 em 65 paĆses entre janeiro de 2020 e marƧo de 2023. As informaƧƵes foram obtidas junto Ć Plataforma ClĆnica Global da OMS para a Covid-19, rede de coleta de dados sobre o tema.
Importante destacar que a covid-19 Ć© causada por um vĆrus e, por isso, nĆ£o Ć© tratada com antibiĆ³ticos (que combatem bactĆ©rias). Mas hĆ” casos em que ocorre uma coinfecĆ§Ć£o e o paciente lida tanto com a covid-19 como com bactĆ©rias que realmente exigem o uso de antibiĆ³ticos – trata-se de uma situaĆ§Ć£o especĆfica que afetou apenas 8% dos indivĆduos internados com a doenƧa no perĆodo, segundo a OMS. Mesmo assim, em torno de 75% desses pacientes foram tratados com esse medicamento “por via das dĆŗvidas”.
A incidĆŖncia desse mĆ©todo variou entre diferentes regiƵes, segundo a OMS. Na regiĆ£o do PacĆfico Ocidental (paĆses localizados prĆ³ximos ao Oceano PacĆfico, no lado ocidental) o uso foi de 33%, enquanto no MediterrĆ¢neo Oriental (paĆses perto da parte oriental do Mar MediterrĆ¢neo) e nas regiƵes africanas essa taxa chegou a 83%.
AlĆ©m disso, ao longo do tempo analisado, o uso de antibiĆ³ticos tambĆ©m se modificou. Entre 2020 e 2022, as prescriƧƵes de antibiĆ³ticos para pacientes internados com covid-19 diminuĆram na Europa e nas AmĆ©ricas, enquanto aumentaram em Ćfrica, segundo a OMS.
Em relaĆ§Ć£o aos tipos de antibiĆ³ticos prescritos, o levantamento concluiu que os mais usados foram os com maior potencial de resistĆŖncia microbiana, de acordo com a classificaĆ§Ć£o da OMS.
De forma geral, o uso de antibiĆ³ticos nĆ£o melhorou os resultados clĆnicos dos pacientes com covid-19, segundo a OMS. Pelo contrĆ”rio: isso pode ter causado danos Ć s pessoas sem infecĆ§Ć£o bacteriana em comparaĆ§Ć£o aquelas que nĆ£o receberam antibiĆ³ticos.
Riscos da prescriĆ§Ć£o indiscriminada
O principal risco associado ao uso excessivo de antibiĆ³ticos Ć© a resistĆŖncia microbiana. Trata-se, segundo a o Programa das NaƧƵes Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), de um quadro em que micro-organismos, como bactĆ©rias, vĆrus, parasitas ou fungos, tornam-se resistentes a tratamentos antimicrobianos aos quais eles eram anteriormente suscetĆveis, como antibiĆ³ticos.
Quanto mais expostos a esses fĆ”rmacos, maior a probabilidade desses micro-organismos se adaptarem – e se tornarem resistentes – a eles.
Pensando nisso, representantes da OMS destacam a necessidade de esforƧos para melhorar a prescriĆ§Ć£o racional de antibiĆ³ticos e minimizar as consequĆŖncias negativas do uso desnecessĆ”rio.