A Organização Mundial da SaĂșde (OMS) convocou para esta quarta-feira (14) comitĂȘ de emergĂȘncia para avaliar o cenĂĄrio de surto de mpox na Ăfrica e o risco de disseminação internacional da doença. O anĂșncio foi feito pelo diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesus, na Ășltima quarta-feira (7), em seu perfil na rede social X.
Segundo Tedros, a decisĂŁo de convocar o comitĂȘ de emergĂȘncia levou em conta o registro de casos fora da RepĂșblica DemocrĂĄtica do Congo, onde as infecçÔes estĂŁo em ascensĂŁo hĂĄ mais de dois anos. O cenĂĄrio se agravou ao longo dos Ășltimos meses em razĂŁo do uma mutação que levou Ă transmissĂŁo do vĂrus de pessoa para pessoa.
Ontem (13), o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC Ăfrica) declarou o cenĂĄrio de mpox na regiĂŁo como emergĂȘncia em saĂșde pĂșblica de segurança continental. O anĂșncio foi feito pelo diretor-geral da entidade, Jean Kaseya, ao citar a rĂĄpida transmissĂŁo da doença na Ăfrica.
âEsse nĂŁo Ă© apenas mais um desafio. O cenĂĄrio exige ação coletiva”, disse. “Nosso continente jĂĄ presenciou diversas lutas. JĂĄ enfrentamos pandemias, surtos, desastres naturais e conflitos. Ainda assim, para cada adversidade, agimos. NĂŁo como naçÔes fragmentadas, mas como uma Ășnica Ăfrica. Resilientes, de forma engenhosa e resoluta.”
De janeiro de 2022 a junho de 2024, a OMS registrou 99.176 casos confirmados de mpox em 116 paĂses. No perĂodo, foram contabilizadas ainda 208 mortes provocadas pela doença.
Dados do relatĂłrio de situação divulgado segunda-feira (12) pela entidade mostram que, apenas em junho, 934 casos foram confirmados laboratorialmente e quatro mortes foram notificadas em 26 paĂses, âsinalizando transmissĂŁo contĂnua da mpox em todo o mundoâ.
As regiĂ”es mais afetadas em junho, de acordo com o nĂșmero de casos confirmados, sĂŁo Ăfrica (567 casos), AmĂ©rica (175 casos), Europa (100 casos), PacĂfico Ocidental (81 casos) e Sudeste AsiĂĄtico (11 casos). O MediterrĂąneo Oriental nĂŁo notificou casos nesse perĂodo.
No continente africano, a RepĂșblica DemocrĂĄtica do Congo responde por 96% dos casos confirmados em junho. A OMS alerta, entretanto, que o paĂs tem acesso limitado a testes em zonas rurais e que apenas 24% dos casos clinicamente compatĂveis e notificados como suspeitos no paĂs foram testados em 2024.
Pelo menos quatro novos paĂses na Ăfrica Oriental, incluindo Burundi, QuĂȘnia, Ruanda e Uganda, reportaram seus primeiros casos de mpox â todos ligados ao surto em expansĂŁo na regiĂŁo. JĂĄ a Costa do Marfim registra um surto da doença, mas de outra variante, enquanto a Ăfrica do Sul confirmou mais dois casos.
No fim de junho, a OMS chegou a alertar para uma variante mais perigosa da mpox. A taxa de letalidade pela nova variante 1b na Ăfrica Central chega a ser de mais de 10% entre crianças pequenas, enquanto a variante 2b, que causou a epidemia global de mpox em 2022, registrou taxa de letalidade de menos de 1%.
Esta semana, a OMS publicou documento oficial solicitando a fabricantes de vacinas contra a mpox que submetam pedidos de anĂĄlise para o uso emergencial das doses. O processo foi desenvolvido especificamente para agilizar a disponibilidade de insumos nĂŁo licenciados, mas necessĂĄrios em situaçÔes de emergĂȘncia em saĂșde pĂșblica.
âEssa Ă© uma recomendação com validade limitada, baseada em abordagem de risco-benefĂcioâ, destacou a entidade. No documento, a OMS solicita que os fabricantes de vacinas contra a doença apresentem dados que possam atestar que as doses sĂŁo seguras, eficazes, de qualidade garantida e adequadas para as populaçÔes-alvo.
A concessĂŁo de autorização para uso emergencial, segundo a organização, deve acelerar o acesso Ă s vacinas, sobretudo para paĂses de baixa renda e que ainda nĂŁo emitiram sua prĂłpria aprovação regulamentar. O processo tambĂ©m permite que parceiros como a Aliança para Vacinas (Gavi, na sigla em inglĂȘs) e o Fundo das NaçÔes Unidas para a InfĂąncia (Unicef) adquiram doses para distribuição.
A mpox Ă© uma doença zoonĂłtica viral. A transmissĂŁo para humanos pode ocorrer por meio do contato com animais silvestres infectados, pessoas infectadas pelo vĂrus e materiais contaminados. Os sintomas, em geral, incluem erupçÔes cutĂąneas ou lesĂ”es de pele, linfonodos inchados (Ănguas), febre, dores no corpo, dor de cabeça, calafrio e fraqueza.
As lesĂ”es podem ser planas ou levemente elevadas, preenchidas com lĂquido claro ou amarelado, podendo formar crostas que secam e caem. O nĂșmero de lesĂ”es pode variar de algumas a milhares. As erupçÔes tendem a se concentrar no rosto, na palma das mĂŁos e na planta dos pĂ©s, mas podem ocorrer em qualquer parte do corpo, inclusive na boca, nos olhos, nos ĂłrgĂŁos genitais e no Ăąnus.
Em maio de 2023, quase uma semana apĂłs alterar o status da covid-19, a OMS declarou que a mpox tambĂ©m nĂŁo configurava mais emergĂȘncia em saĂșde pĂșblica de importĂąncia internacional. Em julho de 2022, a entidade havia decretado status de emergĂȘncia em razĂŁo do surto da doença em diversos paĂses.
âAssim como com a covid-19, o fim da emergĂȘncia nĂŁo significa que o trabalho acabou. A mpox continua a apresentar desafios de saĂșde pĂșblica significantes que precisam de resposta robusta, proativa e sustentĂĄvelâ, declarou, Ă Ă©poca, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom.
âCasos relacionados a viagens, registrados em todas as regiĂ”es, demonstram a ameaça contĂnua. Existe risco, em particular, para pessoas que vivem com infecção por HIV nĂŁo tratada. Continua sendo importante que os paĂses mantenham sua capacidade de teste e seus esforços, avaliem os riscos, quantifiquem as necessidades de resposta e ajam prontamente quando necessĂĄrioâ, alertou Tedros em 2023.