SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Os policiais que agrediram o jovem negro Tyre Nichols, 29, até a morte em Memphis, nos Estados Unidos, mentiram que houve um confronto. Vídeos divulgados mostram os agentes jogando spray de pimenta, socando e chutando Nichols, ressaltando a disparidade entre o que a polícia relatou e o que realmente aconteceu.
As informações sobre um suposto confronto constam no primeiro comunicado divulgado pela polícia, no dia 8 de janeiro, um dia após as agressões acontecerem.
Nichols foi agredido por cinco policiais – todos negros como ele – quando seu carro foi parado pelos agentes a apenas 70 metros de sua casa.
Os policiais reportaram que o jovem reclamou apenas de falta de ar, mas as imagens mostram que ele mal conseguia ficar sentado após ser espancado. Ele foi levado ao hospital em estado crítico e morreu três dias depois, em 10 de janeiro.
Os agentes inicialmente disseram que pararam o carro do jovem porque ele estaria dirigindo de maneira imprudente, mas a acusação não foi comprovada.
Os primeiros comunicados à imprensa geralmente são baseados em relatos feitos pelos próprios policiais que participaram da ocorrência e, se não fosse a presença das câmeras – de segurança e as corporais -, as discrepâncias entre esses registros e a realidade de uma interação policial poderiam nunca vir à tona.
“Se você lesse aquele relatório, não pensaria que Tyre está morto por causa de força excessiva. Está escrito de forma a ser positivo em relação aos agentes da lei. O relatório é falso. É fabricado”, disse Van Turner, presidente da Memphis NAACP (Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor, em tradução literal), ao jornal The Washington Post.
A morte de Nichols gerou protestos em Memphis, cidade onde o caso aconteceu, e em outras cidades dos Estados Unidos. O presidente Joe Biden condenou o episódio e conversou com os familiares da vítima.
A chefe de polícia de Memphis, Cerelyn Davis, disse que os vídeos mostraram comportamentos de policiais que “desafiam a humanidade” – Justin Smith, Desmond Mills Jr., Emmitt Martin III, Demetrius Haley e Tadarrius Bean foram demitidos e são acusados de assassinato. Eles chegaram a ser presos mas, após pagarem fiança, foram soltos.
O procurador-geral dos EUA, Merrick Garland, anunciou no sábado (28) uma investigação federal de direitos civis sobre a morte de Nichols.
A mãe do rapaz lamentou a violência que o filho sofreu. Os vídeos mostram que ele chamava por ela enquanto era agredido pelos policiais.
“Nenhuma mãe deveria passar pelo que eu estou passando neste momento, nenhuma mãe deveria perder seu filho da maneira violenta como a que eu perdi meu filho”, disse RowVaughn Wells.
Nichols trabalhava para o serviço postal FedEx e deixou um filho de quatro anos.
Cronologia das agressões
Os policiais arrancam Nichols do assento do motorista de seu carro parado em um cruzamento, enquanto ele grita “eu não fiz nada, estou apenas tentando ir para casa”. Os policiais forçam o homem ao chão, ordenando-o a deitar com a barriga para baixo, e jogam spray de pimenta em seu rosto.
Nichols se liberta e corre pela rua, com policiais perseguindo-o a pé. Pelo menos um deles dispara uma arma de choque contra a vítima.
Outra imagem mostra uma briga após policiais alcançarem Nichols novamente em um bairro próximo. Dois policiais são vistos segurando-o, enquanto um terceiro o chuta e um quarto o atinge com o que parece ser um cassetete, antes de outro socar Nichols.
Nichols é ouvido gritando “mãe” várias vezes, enquanto luta com os policiais. Uma maca é vista 19 minutos após a primeira equipe médica de emergência chegar ao local.