(FOLHAPRESS) – A cidade de São Paulo intensificou a busca ativa para vacinar crianças com doses contra a Covid-19 em atraso. Desde o dia 20 de dezembro, foram feitas mais de 18 mil abordagens em toda a capital.
A ação é voltada principalmente para crianças de 6 meses a menores de 3 anos (2 anos, 11 meses e 29 dias) do grupo prioritário -com comorbidades, deficiência física permanente, imunossuprimidos e indígenas.
A vacinação para esse público nas UBS (Unidades Básicas de Saúde) teve início em 17 de novembro de 2022.
Na busca ativa, a Secretaria Municipal de Saúde também contempla outras faixas etárias infantis, com ou sem comorbidades. Além disso, já vacina com as doses remanescentes as crianças da mesma faixa etária cujos pais deixaram o nome na lista da xepinha.
Segundo Luiz Artur Caldeira, coordenador da vigilância em Saúde do município, há outras estratégias de busca ativa.
“Verificamos se as crianças desta faixa etária que vão à unidade para consulta, retirar medicamento, tomar outra vacina estão no grupo prioritário. Até os irmãos se estiverem juntos. Muitos pais não entendem essas classificações de comorbidades. Em alguns casos, os filhos têm doenças crônicas e os pais não sabem”, explica Caldeira.
A busca ativa de rotina, voltada a qualquer criança que não foi ao posto receber o imunizante, é baseada num sistema que aponta os faltosos.
“A criança comparece pela primeira vez na unidade e faz a vacinação. O sistema eletrônico de registro de doses aponta quando ela já deveria ter voltado e não voltou”, explica. “Com a lista, os funcionários telefonam e vão à casa delas para saber o porquê não vacinou. O procedimento é o mesmo se essa criança ainda não tomou nenhuma dose.”
Manuella, 1 ano e 9 meses, recebeu a segunda dose da Pfizer Baby em casa, no Tremembé. Quem aplicou foi Luciana Nepomuceno, 41, técnica de enfermagem da UBS Dona Mariquinha Sciáscia.
A vacina deveria ter sido tomada no dia 4 de janeiro. Apesar de ter sido informada sobre a data do retorno na unidade, a mãe, Laura Cristina Alves, 35, que é professora de educação infantil da rede pública, achou que a distância entre as doses deveria ser de três meses.
A reportagem acompanhou a busca ativa nos dias 6 e 9 de janeiro, no Tremembé e no Parque Edu Chaves, ambos na zona norte da capital paulista.
Depois de Manuella, em cerca de uma hora e meia, a equipe foi a endereços de outras crianças no Tremembé. Dois deles eram inexistentes e no terceiro não havia ninguém em casa. Os telefonemas feitos às famílias também foram em vão.
Theo, 3, deveria ter sido vacinado dia 15 de dezembro. O atraso se deu porque a família ficou alguns dias fora da área de abrangência da unidade de referência -a UBS Parque Edu Chaves-, segundo justificativa da dona de casa Juliana Fernandes, 23, mãe do garoto.
Entre as visitas, a enfermeira Leila Cristina, 36, e a técnica de enfermagem Débora de Souza Gilo, 32, pararam na casa de Nicolly, 12. A menina deveria ter tomado a segunda dose da Pfizer em maio do ano passado e não compareceu à unidade porque o posto de saúde é distante de onde mora e não tinha quem a levasse. A avó trabalha muito, segundo ela.
O trabalho também foi justificativa da costureira Rozemary Quispe, 37, para não não ter levado o filho, Miguel, 7, para tomar a segunda dose da Pfizer pediátrica em junho.
“Nós não encontramos com frequência casos de recusas que precisam ser trabalhados, no sentido de convencimento ou mesmo tomar providências. Nossa realidade é mais desatenção, talvez relacionada à baixa percepção de risco -os pais não conseguem ver gravidade na doença e acabam deixando para depois”, diz Caldeira.
Nas UBS tradicionais, o trabalho é feito pela equipe de enfermagem; nas que operam no modelo ESF (Estratégia Saúde da Família), tudo começa pelos agentes comunitários de saúde durante as visitas casa a casa.
“Eles verificam a carteirinha de vacinação, fazem uma conferência mais padronizada: última data de vacinação e a idade. Havendo criança sem carteirinha ou a data de vacinação não é condizente com a idade, encaminham para avaliação do auxiliar de enfermagem da equipe de ESF”, esclarece.
Mônica Levi, presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) lembra que o percentual de internações e complicações causadas pela Covid é maior em crianças, porque é uma faixa etária que não está adequadamente vacinada.
“A Covid não pode ser negligenciada. É um sofrimento para a criança ficar intubada, necessitando de oxigênio ou com essa SIM-P (síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica), que é grave e mata, fora a Covid longa. Hoje, é muito claro para a pediatria que as crianças são vítimas importantes da Covid”, afirma Levi.
Até o último dia 10, haviam sido aplicadas 30.501 doses da Pfizer Baby em crianças de 6 meses a 2 anos, 11 meses e 29 dias -23.958 primeiras doses (D1) e 6.543 segundas doses (D2).
Estão incluídas 27.094 crianças que receberam a D1 por meio de doses remanescentes (xepinha), além das 5.677 que já tomaram a D2. Do grupo prioritário -que possui comorbidades, os imunossuprimidos, indígenas e com deficiência-, 2.541 receberam a D1 e 866 a D2.