“Qualquer ‘não’ que ele ouvia, já era motivo pra uma agressão”, diz irmã de estudante de medicina preso por atropelar e matar a mãe

Declaração foi dada por Lara Tavares durante participação no programa "Encontro com Patrícia Poeta" nesta quarta-feira (13)

A irmã do estudante de medicina Carlos Eduardo Tavares de Aquino, de 32 anos, acusado de matar a própria mãe atropelada, disse que ele não sabia ouvir não. A declaração foi dada por Lara Tavares durante participação no programa “Encontro com Patrícia Poeta” nesta quarta-feira (13). A mãe deles, Eliana Cordeiro, de 58 anos, morreu em acidente, em Campos.

Ela trafegava de bicicleta elétrica pela Avenida Francisco Lamego, no bairro Jardim Carioca, na região de Guarus, quando foi atingida pelas costas. Outro veículo também foi atingido, deixando cinco pessoas feridas.

“Comecei a presenciar as agressões dele já na adolescência. Na verdade antes da adolescência, eu ainda era uma criança. Ele é oito anos mais velho do que eu, então eu não entendia ainda no começo o que estava acontecendo, mas já sabia que eu precisava pedir ajuda. Meu pai sempre trabalhou como representante de farmacêutico, então ele viajava, passava dois, três dias fora de casa e ficava eu, o meu irmão e a minha mãe. Então, duas mulheres com ele. E, ele sempre se aproveitou disso pra manipular a minha mãe. Se aproveitada que estava sozinho comigo e com ela e tentava tirar as coisas dela. Qualquer ‘não’ que ele ouvia já era motivo para uma agressão, para uma violência”, disse Lara.

Lara contou que defendia, entrava na frente, mas começou a sofrer agressões do irmão pois não conseguia ficar quieta.

“Mesmo eu sendo muito menor, eu dava o meu jeito. Eu entrava na frente, batia de volta. Eu falava que pra bater nela tem que bater em mim primeiro. E ele batia”, lembra.

Ela também disse que chegou a passar na cabeça dela outras vezes que o irmão poderia matar a própria mãe. Lara lembra ainda que os pais tentavam preserva-la do que acontecia em casa.

A irmã contou ainda que o estudante de medicina era usuário de drogas, como cocaína e acha que isso aumentou a coragem dele.

“As drogas só deram mais coragem para ele fazer o que ele na verdade sempre foi capaz de fazer”, diz.

A irmã conta que procurou a delegacia várias vezes para denunciar.

“Todas as vezes que eu cheguei na delegacia sozinha, foi praticamente impossível completar uma denúncia. Quando eu ia sozinha e não era eu que tinha sido agredida, o comportamento dos policiais era o seguinte: ‘foi você que foi agredida hoje?’ Aí eu respondia que hoje não, mas eu fui agredida tal dia. Hoje ele agrediu a minha mãe. ‘Então somente a sua mãe pode prestar ocorrência’. Essa era a resposta”.

Carlos Eduardo foi denunciado à Justiça pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ). Ele é acusado de feminicídio, cinco lesões corporais culposas e por dirigir sob efeito de entorpecente.

Alguns fatores que levaram a polícia a concluir que houve dolo na conduta de Carlos Eduardo, segundo o delegado, foram:

  • A utilização do veículo de forma anormal pouco antes do acidente, somente acelerando o veículo naquela reta onde foi a colisão;
  • A questão de tentar fugir do local do crime, que comprova que ele teve algum tipo de consciência naquela conduta;
  • O menosprezo pela condição da mãe, que viu a mãe morta ali e sequer esboçou qualquer tipo de sentimento daquilo tudo;
  • A questão da boa iluminação do local também foi relevante, foi crucial na verdade, porque tinha condições de ver que era a bicicleta da mãe, bicicleta amarela, cor amarelo vivo, que todo mundo sabia da comunidade que só ela tinha aquela bicicleta.

Além das provas da investigação relacionadas à ocorrência, a Polícia Civil também considerou o histórico de agressões sofridas pela vítima, sobretudo em razão do acusado ser usuário de drogas, como mostra um vídeo feito dentro da casa da família, depois que ele pediu R$ 5 reais a ela.

Em determinado trecho do vídeo, ele diz:

“Morre logo, sua desgraçada! Morre logo, desgraçada! (…) ‘É’ cinco reais, você é um lixo!”.

O vídeo foi gravado por Lara e disse que o irmão se sentia imparável.

Sobre a perda da mãe

Lara disse que a mãe, Eliana Cordeiro, de 58 anos, tinha esperanças que o filho iria melhorar.

“Ela era uma mulher sendo agredida por um homem, maior, mais forte, com mais voz, que era mais ouvido pela sociedade. Porquê até quando os policiais foram a nossa casa, quando eu fui agredida, inclusive os policiais me viram desfigurada, tinha tudo pra ter uma prisão em flagrante. Os policiais chegaram até a me assediar e não levar o meu irmão preso”, afirma.

O marido de Eliana e o pai dela, está muito fragilizado e também sofria os mesmos abusos psicológicos que a mãe.

“Foram duas perdas, ele perdeu a esposa e perdeu o filho, que tá preso. Ele tem essa consciência que também o machuca muito”, afirma.

Lara afirmou que a perda da mãe é irreparável: “Nada vai trazer minha mãe de volta, nada vai tirar essa dor”.

Em depoimento, um dia depois do atropelamento, o suspeito, acompanhado do advogado, negou ter ciência de que a vítima seria a própria mãe. Na última semana, o advogado anunciou que deixou a defesa.

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