Yagiz Ulas, a recém-nascida que foi retirada na sexta-feira dos escombros em Hatay, junto com a mãe, 90 horas depois do maior terremoto já registrado na Turquia, se reencontrou com a família.
Uma semana após o terremoto que matou mais de 34 mil pessoas de pessoas na Turquia e na Síria, Necla Camuz, a mãe, conta como sobreviveu cinco dias com a bebê no colo debaixo dos destroços.
Necla e sua família moravam no segundo andar de um prédio moderno de cinco andares na cidade de Samandag, província de Hatay, no sul do país.
Apenas dez dias após dar à luz ao segundo filho, a quem chamou de Yagiz, que significa “corajosa”, estaria longe de imaginar que iria passar 90 horas lutando pela vida à espera de ajuda.
Naquele dia, pelas 4h17, hora local, a mulher estava acordada amamentando a recém-nascida.
“Quando o terremoto começou, eu queria ir ver o meu marido, que estava na outra sala, e ele queria fazer a mesma coisa”, conta à BBC.
“Mas quando ele tentou vir até mim com o nosso outro filho, o guarda-roupa caiu e eles não conseguiram mais se movimentar”, acrescenta. “À medida que o terremoto aumentava, a parede caía, a sala tremia e o prédio mudava de posição. Quando parou, não percebi que havia caído um andar. Gritei os nomes deles, mas não houve resposta.”
A mulher de 33 anos ficou então deitada, de pijama, com o bebê ao peito, ao lado do guarda-roupa caído. Ambas permaneceram naquela posição durante cerca de quatro dias.
Sem ver mais nada além da escuridão, Necla explica que as primeiras horas foram difíceis, por causa da poeira. À distância, conseguia ouvir vozes.
A mulher tentou gritar por socorro e bater no guarda-roupa: “Há alguém aí? Alguém consegue ouvir?”
Sem sucesso, pegou pedaços de entulho que haviam caído ao seu lado, e bateu com eles contra o guarda-roupa, na esperança de que alguém conseguisse ouvi-la. Ainda assim, ninguém respondeu. Necla percebeu que havia a possibilidade de que ninguém a socorresse e ficou “apavorada”.
Na escuridão e sob os escombros, Necla perdeu toda a noção do tempo.
“Planejamos muitas coisas quando temos um bebê… E, de repente, estamos sob os escombros”, confessa, adiantando que, ainda assim, sabia que precisava cuidar de Yagiz e foi capaz de amamentá-la naquele espaço confinado.
Não havia fonte de água ou comida onde ela pudesse aceder. Em desespero, tentou, sem sucesso, beber o próprio leite materno.
À medida que os dias passavam, Necla conseguia ouvir o barulho das brocas acima dela, e ouvir passos e vozes, mas os sons abafados pareciam distantes.
Naquelas longas horas, pensava constantemente na sua família: na bebê ao seu peito e no marido e no filho perdidos sob os destroços. Yagiz dormia a maior parte do tempo e, quando acordava chorando, a mãe alimentava-a silenciosamente até que se acalmasse.
Depois de mais de 90 horas no subsolo, a mulher ouviu o latido dos cães e algumas vozes: “Você está bem? Bata uma vez para sim. Em que apartamento você mora?”
Necla conta que achou que estava sonhando. As equipes de resgate escavavam cuidadosamente para tentar localizá-la, enquanto ela segurava a bebê com cuidado.
Por fim, a escuridão foi quebrada por uma luz.
Quando os elementos do corpo dos bombeiros do município de Istabum perguntaram quantos anos Yagiz tinha, a mãe não soube imediatamente responder. Necla sabia apenas que a filha tinha 10 dias quando o terremoto aconteceu.
Na chegada ao hospital, a mulher foi recebida por familiares que afirmaram que o marido, Irfan, e o filho mais velho, Yigit Kerim, também tinham sido resgatados com vida, mas tinham sido transferidos para um hospital na província de Adana, com ferimentos graves nas pernas e nos pés.
Por sua vez, mãe e filha não sofreram ferimentos graves. Ficaram no hospital por 24 horas em observação, antes de receberem alta.
Sem casa para onde voltar, um membro da família as levou para uma tenda de madeira e lona improvisada onde estão outros parentes que também ficaram sem as suas casas.
“Acho que se o meu bebê não fosse forte o suficiente para lidar com isto, eu também não teria”, conta Necla, que espera que Yagiz não volte a passar por nada assim. “Estou muito feliz por ela ser um bebê recém-nascido e não se lembrar de nada.”
Irfan e Yigit Kerim permanecem hospitalizados, mas já conseguiram falar por videochamada com ela, como testemunhou a reportagem da BBC.
Pelo menos 33.179 pessoas morreram em consequência do violento sismo que abalou na segunda-feira a Turquia e a Síria. O abalo deixou ainda 92.600 pessoas feridas.
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