(FOLHAPRESS) – Ronnie Von completa 80 anos nesta quarta-feira (17), mas diz que se sente um garoto. Leva a vida como se tivesse 25. O músico e apresentador se prepara para estrear, em agosto, um novo programa de entrevistas na RedeTV!, do jeitinho que queria: noturno e semanal.
“Não aguentava mais acordar às 5h da manhã”, brinca ele, que estava insatisfeito com o antigo horário destinado a ele pela emissora, na faixa matinal. O real problema, explica, era uma incongruência de público e de assuntos. “Acho que o público matinal não é meu público. Sou sommelier e barman. Imagina não poder falar de vinho?”, protesta.
Na nova atração, Ronnie promete “seguir a mesma linha de sempre: deixar aflorar humanidade nas pessoas e levar informação e entretenimento”, diz. “Você vai ver desde grandes medalhões da música, que são meus amigos pessoais, até aqueles que têm um talento monumental e não têm oportunidade de aparecer. No meu outro programa, levei umas dez bandas de rua que eu via tocando na avenida Paulista”, conta.
Com mais de 50 anos de carreira na TV, Ronnie considera a telinha um meio poderoso de informação e educação. “A televisão é, hoje, a maior escola do nosso país. Somos um país pobre, desinformado, inculto. Acho que tenho a obrigação de levar, pelo menos, informação e cultura. E claro, entretenimento. É TV: tem que ter riso e lágrima”, diz.
ANOS DOURADOS
Nascido -e muito bem nascido- Ronaldo Nogueira, em uma família de empresários do mercado financeiro, em Niterói, em 1944, Ronnie comprou uma “briga séria” em casa quando decidiu ser artista. “Estava no último ano da faculdade, me preparando para ser o sucessor do negócio da família, e quando viram, eu estava na televisão com o cabelo comprido cantando Beatles. Foi terrível”, se diverte.
“‘Onde foi que nós erramos? Criamos uma cobra para nos picar. Vai jogar o nome da família na lama’. Ouvi de tudo”, lembra. O gênero musical escolhido lhe levou a decepcionar não só os pais, mas também amigos. “Viraram as costas porque eu não fazia música engajada, fazia rock de inglês cabeludo”, conta.
Mas ele seguiu firme no que acreditava e, com auxílio da pinta de galã, teve seus anos dourados. Entre as décadas de 1960 e 1990, gravou 18 álbuns e emplacou turnês no Brasil e fora dele. Sua fase psicodélica, rejeitada na época, virou ícone cult e hoje encabeça listas das principais obras do gênero.
Foi o maior fracasso comercial da minha vida, mas foi considerado, tempos depois, o melhor disco de rock psicodélico do mundo. Eu aqui, brasileirinho, coitadinho, no meu cantinho, não sou nada nem ninguém, mas tenho muita gratidão pelas pessoas que entenderam e gostaram da minha música”, diz.
Hoje engravatado na tela da TV, Ronnie revela por que abandonou o rock: “Parei de cantar por me insurgir contra o que foi instituído como norma nas gravadoras”, sentencia. “A coisa começou a tomar um rumo que não concordo, que é o jabá”.
Segundo ele, a indústria musical atual é comprada e “tudo o que faz sucesso é pago”, diz. “É uma inversão total de valores. Hoje, só existem essas duas vertentes musicais no Brasil: o sertanejo, que aliás, não é sertanejo, e o funk, que também não é funk”, critica, evocando algo do roqueiro que ainda vive ali.
DOIS UNIVERSOS
Casado há 39 anos com Maria Cristina Rangel, conhecida como Kika Von, Ronnie dispensa os parabéns da repórter: “Não é parabéns porque não podemos racionalizar o que é emoção. Emoção não merece parabéns, é uma coisa tão intrínseca que não deve ser adjetivada”, filosofa. O segredo para uma relação tão longeva, ele entrega, é se colocar no lugar do outro. “Um casal são dois universos diferentes”.
E não é só o casamento que é longevo. Ronnie conta que aprendeu com o pai a fórmula para se sentir eternamente jovem. Ele lembra que, certa vez, o patriarca, o empresário José Maria Nogueira, aos 88 anos, dispensou seus dois jardineiros e subiu em uma escada para podar uma planta.
“Levou um tombo e se quebrou todo”, lembra Ronnie, que ao repreender o pai, escutou como resposta: “A mente humana não vai passar nunca dos 25 anos de idade. O corpo é que não quer entender”, recorda. Hoje, ele sente na pele o que o pai queria dizer. “Não tenho 80. Tenho 25, é que o corpo não quer entender.”
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