SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, pediu à estatal Tactical Missiles Corporation para dobrar sua produção de mísseis para a Guerra da Ucrânia, segundo mensagem veiculada pela televisão oficial nesta terça-feira (2).
“As ações das unidades russas que conduzem a operação especial dependem em grande parte do reabastecimento de estoques de armas, equipamentos militares e meios de destruição”, disse Shoigu. Ele acrescentou que as empresas de defesa foram instruídas a aumentar rapidamente “o ritmo e o volume de produção”.
Embora Moscou e Kiev enfrentem desafios de abastecimento bélico, especialistas desconfiam que a Rússia tem ficado sem munição de alta precisão, já que o lançamento de mísseis contra a Ucrânia diminuiu nos últimos meses.
Nesta terça, o Ministério da Defesa do Reino Unido disse que os problemas logísticos são centrais no conflito e que Moscou não tem munição suficiente para ter êxito na ofensiva. “A Rússia continua dando a mais alta prioridade à mobilização de sua indústria de defesa, e ainda assim não consegue atender às demandas do tempo de guerra”, afirmou a pasta.
O país europeu já havia feito apontamentos nessa direção. Em dezembro passado, a inteligência militar britânica disse que a Rússia estava limitando seus ataques com mísseis de longo alcance contra a Ucrânia devido à falta de armamento; em março, Londres voltou a ventilar a desconfiança ao dizer que Moscou provavelmente estava racionando projéteis de artilharia ou usando explosivos desatualizados.
A falta de armamento também incomodou o russo Ievgueni Prigojin, chefe da milícia privada Wagner, que atua na guerra. O empresário disse na última segunda-feira (1º) que suas tropas estavam recebendo apenas um terço dos projéteis de artilharia de que precisavam para o ataque à cidade de Bakhmut, no leste da Ucrânia. Há meses Prigojin reclama da falta de suprimentos de Moscou e diz que o apoio reduzido está atrapalhando a ofensiva russa em um momento de escalada do conflito.
Durante o inverno europeu, a Ucrânia reforçou suas defesas antiaéreas, e agora Kiev está se preparando para lançar um esperado contra-ataque usando centenas de armas doadas por aliados. Em paralelo, milhares de soldados voltaram recentemente de uma série de treinamentos no Ocidente.
Moscou, por sua vez, acirrou as investidas, o que fez a guerra ganhar novo fôlego. Na semana passada, a Rússia realizou seu maior ataque de mísseis sobre o território ucraniano em quase dois meses, matando quase 25 pessoas, e, na madrugada desta quarta-feira (3), teria lançado 26 drones kamikaze ao país vizinho, de acordo com o Exército ucraniano, que diz ter repelido 21 deles.
Também nesta quarta, a Rússia acusou a Ucrânia de estar por trás de um suposto ataque a drones ao Kremlin -a sede do governo em Moscou. Segundo as autoridades, o objetivo seria assassinar o presidente do país, Vladimir Putin. A alegação, sem base em quaisquer evidências, foi refutada por Kiev. “A Ucrânia trava uma guerra exclusivamente defensiva, e não ataca alvos no território da Rússia”, afirmou Mikhail Podoliak, principal assessor do presidente Volodimir Zelenski, no Twitter.
A guerra de versões não impediu o Kremlin de divulgar nota afirmando que “o lado russo se reserva o direito de tomar medidas de retaliação onde e quando considerar adequado”.
A declaração foi encarada como uma indicação de que Moscou pretende usar o episódio para intensificar ainda mais o conflito -e gerou suspeitas de uma operação de “bandeira falsa”, ou seja, um ataque contra si mesmo para iniciar uma guerra, retaliar adversários ou escalar uma situação estabelecida.
Na segunda, o ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, afirmou que as condições-chave para o sucesso eram disponibilidade de armas e pessoas treinadas. “A partir de hoje, estamos entrando na reta final, quando podemos dizer: ‘Sim, está tudo pronto'”, disse Reznikov, em comentários televisionados sobre a contraofensiva.