Sem celular, recreio volta a ter barulho, mas alunos sofrem com abstinência

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Mesas de pingue-pongue, pebolim, espaço de leitura e tabuleiros. Os atrativos já estavam disponíveis entre o refeitório e a área de convivência da Escola Estadual Olga Cury, em Santos (SP), mas se tornaram destaque no retorno às aulas, no início do mês, com a restrição do uso de celular. Na unidade de ensino, os primeiros dias sem os aparelhos pessoais foram protagonizados pela interação social e a redescoberta de livros e brincadeiras.

 

“Achei que teria resistência, mas, pelo contrário, eles (os alunos) me surpreenderam. Na reunião de pais orientamos que não trouxessem o celular, mas não podemos impedir. O aparelho deve ficar desligado. Não pode usar”, disse Luciane Martins Rodrigues, vice-diretora da escola, que atende 1.480 estudantes nos ensinos Fundamental e Médio.

Luciane conta que as primeiras impressões são positivas e foram observadas principalmente durante o intervalo.

“Sempre os assisto no recreio, e, nessa semana, eles estavam jogando UNO, lendo livro, brincando, coisas que não faziam. Fiquei muito feliz quando vi uma menina que não falava com ninguém, porque passava o recreio todo jogando sozinha no celular, interagindo com os colegas. nesta segunda-feira (17) ela já entrou sorrindo”, disse Luciane Martins Rodrigues.

Segundo a gestora da unidade, professores e funcionários não podem utilizar o celular. As atividades que necessitam do uso de recurso tecnológico devem ser realizadas com os equipamentos disponibilizados pela escola. Televisores dispostos nos corredores funcionam como murais digitais e exibem continuamente as novas regras.

A vice-diretora reforça que, embora os primeiros dias não tenham registrado intercorrências, a escola conta com uma Professora Orientadora de Convivência (POC), profissional que atua no processo de acolhimento.

“Houve a orientação que os estudantes poderão apresentar resistência ou abstinência, aqui ainda não ocorreu. Uma psicóloga visita a escola a cada 15 dias. Se a POC observar essas questões, a criança será encaminhada e o tratamento disponibilizado”.

Há mais de 30 anos atuando na área da Educação, Luciane considera a legislação necessária. “Acho que a lei está voltada para resgatar as crianças. Muitos deles, depois da pandemia, ficaram doentes, isolados, não sabendo conversar e interagir. É preciso resgatar o brincar, o conversar e o fazer amigos. A participação da família é fundamental”.

Thaís Vieira Cândido é professora de História na EE Olga Cury e também se surpreendeu. “Nos primeiros dias, observei eles se comunicando mais. Me chamou atenção alunos mais tímidos com livros físicos e uma aluna do segundo ano com caça-palavras. Isso é muito positivo”.

ABSTINÊNCIA

A restrição do uso de aparelhos celulares nas escolas não é regra apenas na EE Olga Cury, é amparada por lei federal e, no estado de São Paulo, apoia-se, também, em legislação estadual aprovada no final do ano passado. A medida é válida para instituições de ensino públicas e privadas e permite o uso de aparelhos eletrônicos para fins estritamente pedagógicos ou didáticos em sala de aula.

Maria Antonia, que prefere não se identificar, é professora de Artes em uma escola privada no litoral de São Paulo e considera a lei importante, mas a nova realidade também trouxe desafios à comunidade escolar, como alunos com crise de abstinência.

“A avaliação da coordenação e dos professores é que os alunos estão muito viciados no celular. Às vezes que entrei na sala de Ensino Médio, nesta semana, vi aluno pegando o celular do bolso, sem abrir, apenas para tocar e saber que a ‘rede de apoio’ dele está ali. Alguns professores já viram aluno levando dois aparelhos, um que fica à mostra e outro para mexer escondido. Eles estão vendo maneiras de manusear em sala.”

A docente disse que as inspetoras relataram melhora na convivência dos estudantes durante o intervalo, porém há casos de sofrimento.

“Alunos que eram muito quietinhos, que viviam no celular, estão conversando e interagindo mais no pátio. Outros estão sobrecarregados, desesperados, e dá para perceber que é por conta do celular. Isso é triste. A gente só vai conseguir ver o resultado da proibição no final do ano.”

Oswaldo Vellardi é professor em escola pública e privada. Disse que boa parte dos alunos aceitou as regras. “Alguns, poucos, levaram o telefone para mexer no banheiro. Eles estão conseguindo conhecer melhor os colegas e estão percebendo que é possível conhecer o mundo fora da ‘jaula’ do celular”.

Vídeos compartilhados nas redes sociais mostram estudantes comentando a nova rotina.

“Eu, como sou viciada no celular, é muito esquisito o celular não estar do lado. Mesmo que não esteja usando, parece que está faltando alguma coisa, sabe? Em relação às aulas, achei que consegui focar mais, sem distração das mensagens. Não achei negativo, porque eu consegui prestar mais atenção.”

“Essa m* não vai funcionar, sabe por quê? Eu já estudei em uma escola que tinha essa ‘regrinha’ e ninguém respeitava, gente. Todo mundo colocava o celular na cintura e ficava mexendo no banheiro. E para pagar o lanche, o ‘pixinho’ do lanche, como vai ser?”

“Eu acho que se eles querem aplicar essas regras inúteis, que são baseadas no que está acontecendo fora do Brasil, eles que arrumem o wi-fi e o ventilador também. Aproveita e arruma as cadeiras.”

RESTRIÇÃO ANTECEDE LEI

No Colégio Dante Alighieri, na capital paulista, a restrição do uso do celular antecede as leis federal e estadual, e teve início em setembro do ano passado.

“Algumas medidas estão sendo tomadas, entre elas proposta de palestra para as famílias, aulas no componente específico de educação socioemocional, discussões em comitês discentes de todas as séries a partir do sexto ano e acompanhamento individual pela equipe de Orientação Educacional”, disse Angela de Cillo Martins, diretora pedagógica.

A gestora destaca que a mudança na rotina da escola foi pouca. “Como o uso já estava proibido em sala de aula, a aceitação das novas regras foi bem-vinda pela grande maioria dos alunos e familiares. Para os recreios e momentos de socialização, o colégio oferece um conjunto de atividades de integração dos alunos, como jogos de tabuleiro, práticas esportivas e dinâmicas de brincadeiras infantis”.

No Colégio Tradição, em Santos (SP), a preparação para a nova rotina também teve início no ano passado. Antes da lei, somente alunos a partir do sexto ano podiam utilizar o aparelho durante o intervalo. Fotos e vídeos eram proibidos.

“Adquirimos vários jogos para o horário do intervalo, para que fiquem entretidos e tenham convivência com os pares. O intervalo está mais barulhento, o que é bom, pois significa que estão conversando, brincando e fazendo conexões”, ressalta Alessandra Garcia Valente, diretora Pedagógica da escola.

SAÚDE MENTAL E CAMPANHAS DE MOBILIZAÇÃO

A ausência do celular pode acarretar sintomas como inquietação, irritabilidade, baixa concentração e isolamento social. As mudanças de comportamento devem ser observadas com atenção.

“Se esses sintomas estão associados à sala de aula com conflito com os colegas, prejuízo imediato às tarefas e sofrimento, é importante que o professor converse com o aluno, entenda o que está se passando e mobilize junto à escola e à família os recursos de saúde mais adequados para dar suporte a esse estudante”, ressalta o psiquiatra e professor Rondinelli Salvador.

“Há evidência crescente, do ponto de vista científico, que a associação entre infância e adolescência com o uso abusivo de celulares é bastante perigoso. Parte do processo de expressão de amor dos pais envolve a educação, e educar alguém é também dizer não. Cabe às famílias e à sociedade, no geral, estabelecer formas de proteger crianças e adolescentes dessa prática no cotidiano”, completa o especialista.

Michel Carvalho, doutor em Ciências Humanas e pesquisador do Grupo de Mediações Educomunicativas da ECA/USP, defende a realização de campanhas de conscientização, por parte da União, estados e municípios, sobre os danos causados pelo uso excessivo de telas.

“A restrição do celular nos ambientes de ensino precisa contar com o apoio total da comunidade escolar, principalmente nos primeiros meses da vigência da lei, para que se possa construir uma mentalidade coletiva favorável à legislação. A construção de conhecimento no ambiente escolar não pode estar condicionada ao uso de um aparato tecnológico. A educação exige momentos de escuta, reflexão e troca”, destaca.

 

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