(FOLHAPRESS) – Apenas São Paulo, Salvador e Belo Horizonte, entre as 26 capitais e o Distrito Federal, fazem ultrassom de emergência nas UPAs (unidades de pronto atendimento). O exame é essencial para diagnóstico em situações com risco de morte, como em casos de insuficiência respiratória, politraumatismo e parada cardiorrespiratória.
As UPAs operam 24 horas por dia, todos os dias da semana, com serviços de saúde gratuitos para a população. Nesses locais são atendidos pacientes com condições leves, graves e casos cirúrgicos e traumáticos para estabilização e encaminhamento a um hospital.
Na maioria das capitais, as UPAs não têm ultrassom de emergência nem aparelhos convencionais de ultrassonografia. Assim, quando o paciente precisa do serviço e não há na unidade, é necessário incluí-lo na fila para ser atendido em um hospital.
Em situações graves, em que cada segundo importa, o uso do aparelho faz a diferença. Se uma pessoa chega com insuficiência respiratória aguda, sem respirar, existem várias possíveis causas do quadro, com tratamentos diferentes. O “ultrassom à beira do leito” identifica o problema de forma rápida e eficaz.
O método de fazer ultrassom à beira do leito é conhecido como Pocus (point-of-care ultrasound, procedimento traduzido como ultrassonografia direto ao ponto). Nesses casos, o aparelho está disponível já nas emergências das UPAs, para ser usado pela equipe médica que atende o paciente primeiro, e não em uma sala de imagem com ultrassonografista.
Segundo levantamento feito pela Folha com as secretarias estaduais e municipais de Saúde, entre as três capitais que oferecem o serviço, Salvador (BA) está na frente, com 9 das 20 UPAs da cidade dispondo da tecnologia. As duas unidades que são administradas pelo governo do estado não fazem ultrassom de emergência.
Em Belo Horizonte (MG), 4 das 9 UPAs têm o equipamento. Na cidade de São Paulo, são 4, de um total de 30. Nas duas capitais, o governo do estado não tem unidades de pronto atendimento.
A gerente de urgência e emergência da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador, Camila Cumming, conta que, com o uso do ultrassom, os médicos ganharam autonomia e celeridade no diagnóstico e no atendimento aos pacientes em estado crítico.
Um paciente de 54 anos com uma forte dor abdominal deu entrada em uma das UPAs da cidade no dia 26 de agosto. Segundo Camila, os médicos fizeram ultrassom de abdômen na emergência e identificaram hérnia umbilical. Em seguida, pela gravidade do quadro, o homem foi transferido para um hospital.
“Ainda temos como exemplos de uso a passagem de um acesso venoso central, guiado por ultrassom, em que o médico pode visualizar a veia em tempo real para ter maior precisão”, explica.
A Prefeitura do Rio de Janeiro foi procurada para fornecer os dados sobre as UPAs administradas pelo município, mas não respondeu até a publicação desta reportagem. Já o governo do estado do RJ informou que administra 17 UPAs na capital, todas sem ultrassom.
Além disso, cinco capitais do Brasil não têm UPA: Aracaju (SE), Recife (PE), Vitória (ES), Manaus (AM) e Boa Vista (RR).
Apesar de o Ministério da Saúde não estabelecer como obrigatório o uso da ultrassonografia nas UPAs, a pasta destaca que as gestões estaduais e municipais têm autonomia para implantar o equipamento de acordo com a necessidade apresentada no território, “para garantir a melhor assistência aos usuários do SUS”.
Algumas secretarias afirmam que não têm o aparelho de ultrassom nas unidades de pronto atendimento devido à falta de exigência do Ministério da Saúde. O governo de Alagoas, por exemplo, diz que não tem o serviço nas UPAs de Maceió porque o equipamento “não é exigido na legislação que rege as UPAs”.
A Prefeitura de Teresina (PI) afirma que “quando o paciente necessita do exame, ele é referenciado [levado] para fazer em um hospital da rede”. A mesma coisa acontece em outras capitais, como Campo Grande (MS) e Curitiba (PR).
De acordo com Leonardo Piber, diretor da Sociedade Brasileira de Ultrassonografia, muitas emergências chegam primeiro nas UPAs e, com o ultrassom, a fila de espera para atendimento em hospitais poderia ser reduzida.
“Por exemplo, uma mulher com uma dor abdominal, dor pélvica, é muito comum e tem vários diagnósticos. Se a suspeita é apendicite, não tem jeito, a paciente vai ter que ir para o hospital, mas chega lá e descobre uma cistite. Poderia ter dado antibiótico e mandado para casa na UPA mesmo”, exemplifica.
De acordo com Piber, o preço de um aparelho portátil de ultrassom vai de R$ 30 mil, para os modelos mais simples, a R$ 200 mil, para os mais completos. Em comparação, um aparelho de raio-X, obrigatório nas UPAs, custa de R$ 150 mil a R$ 1 milhão.
Esta reportagem foi produzida durante o 9º Programa de Treinamento em Jornalismo de Ciência e Saúde da Folha, que contou com o patrocínio do Laboratório Roche e do Hospital Israelita Albert Einstein.
Leia Também: Nova variante do Sars-CoV-2 é detectada em três estados brasileiros