BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – O número de mortes provocadas pela passagem da tempestade tropical Freddy chegou a ao menos 136, e outras dezenas dezenas de pessoas ficaram feridas no rastro de destruição em Moçambique, no Maláui e em Madagascar, no sul do continente africano. Essa é a segunda vez que o fenômeno atravessa a África Meridional em menos de um mês.
A tempestade voltou a atingir o centro de Moçambique no sábado (11), arrancando telhados e causando inundações ao redor do porto de Quelimane, capital da província de Zambézia, e se moveu para o interior em direção ao Maláui, onde as chuvas torrenciais provocaram diversos deslizamentos de terra nesta segunda (13).
Segundo Charles Kalemba, comissário do Departamento de Assuntos de Gestão de Desastre do Maláui, 99 pessoas morreram em decorrência dos efeitos da tempestade no país -85 apenas em Blantyre, centro financeiro e comercial do país.
O hospital central da cidade recebeu pelo menos 60 corpos no início da tarde desta segunda, disse à agência de notícias Reuters a diretora nacional dos Médicos Sem Fronteiras (MSF), Marion Pechayre. Cerca de 200 feridos estão sendo tratados no local.
Quedas de árvores, deslizamentos de terra e inundações repentinas causaram a maioria dos ferimentos. “Muitas casas são formadas de barro com telhados de zinco”, explicou Pechayre, “então os telhados caem na cabeça das pessoas.”
De acordo com o porta-voz da polícia da cidade, Peter Kalaya, a procura por desaparecidos continua em Chilobwe e Ndirande, dois dos distritos mais afetados de Blantyre. As chuvas incessantes prejudicam as buscas. “Tememos que algumas dessas pessoas estejam enterradas sob os escombros”, disse Kalaya.
Os números em Moçambique ainda são imprecisos, já que o fornecimento de energia e os sinais de telefone foram cortados em algumas áreas afetadas. Contudo, de acordo com o delegado provincial do Instituto Nacional de Gestão do Risco de Catástrofes, Nelson Ludovico, pelo menos dez pessoas morreram na província da Zambézia. A cifra, provisória, foi confirmada em entrevista à emissora pública Rádio Moçambique.
“A situação é crítica na província da Zambézia. Não podemos avançar com uma imagem precisa da dimensão dos estragos porque não há comunicações com todas as regiões”, confirmou à rádio o ministro da Saúde, Armindo Tiago.
A tempestade Freddy, que se formou no noroeste da Austrália na primeira semana de fevereiro, deve se tornar o ciclone tropical mais duradouro já registrado. A previsão é da Organização Meteorológica Mundial (OMM), braço da ONU (Organização das Nações Unidas) para assuntos climáticos.
O fenômeno atravessou o sul do Oceano Índico e alcançou Madagascar em 21 de fevereiro, antes de chegar a Moçambique, no dia 24. As fortes chuvas do fim de semana evidenciam a trajetória circular incomum do ciclone, que voltou a atingir Madagascar na semana passada e Moçambique no último sábado e Maláui na manhã desta segunda.
Guy Taylor, chefe de advocacia, comunicações e parcerias do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) em Moçambique, afirmou à Reuters que as agências humanitárias do país não têm capacidade para lidar com um desastre dessa dimensão.
Mesmo com a diminuição dos ventos no país nesta segunda, ele ressaltou que ainda havia muitas enchentes que destruíram plantações e aumentaram o risco de transmissão de doenças pela água.
Em paralelo, Maláui tem lutado contra o surto de cólera mais mortal de sua história, e as agências da ONU alertaram que, com a destruição causada, a situação pode piorar.
Segundo pesquisas, as tempestades tropicais estão ficando mais fortes com a intensificação das mudanças climáticas no mundo. Ao absorver o calor produzido pela queima de combustíveis fósseis, o oceano esquenta. E quando essa água quente do mar evapora, a energia térmica é transferida para a atmosfera, ocasionando tais fenômenos.