O número de casos de dengue registrados até agora na cidade de São Paulo cresceu 47% em relação ao mesmo período do ano passado e já é o maior desde 2019 para o período, segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) referentes às nove primeiras semanas epidemiológicas do ano (até 4 de março).
Foram 938 infecções confirmadas em 2023, ante 637 no mesmo período de 2022. O número real de casos deve ser ainda maior já que, pelo atraso na notificação de infecções pelos serviços de saúde, os registros das últimas duas semanas costumam estar incompletos. Se analisadas as primeiras quatro semanas do ano, cujos dados já estão mais consolidados, a alta entre um ano e outro foi de 110%.
Distritos da região central, zona oeste e zona norte da capital paulista registram as maiores taxas de incidência até o momento. A Barra Funda ocupa o topo da lista, com 42,2 casos por 100 mil habitantes, seguida por Pari (41,4), Tremembé (25,1), Perdizes (20,1) e Pinheiros (19,8).Nenhuma morte pela doença foi registrada neste ano até agora.
EPIDEMIA
Embora o coeficiente de incidência acumulado do ano ainda seja considerado baixo, o cenário preocupa a Prefeitura e especialistas por indicar antecipação do período de alta de casos e, consequentemente, risco maior de uma epidemia.
De acordo com Luiz Artur Caldeira, coordenador da Vigilância em Saúde, a equipe técnica do órgão observou um adiantamento do aumento de casos de dengue, que tradicionalmente ocorre entre março e maio. A hipótese é de que, com um verão com elevadas temperaturas e alto volume de chuvas, as condições climáticas favoreceram a reprodução do mosquito Aedes aegypti ainda mais cedo.
“Os indicadores nos mostram que a curva de casos registrada em janeiro e fevereiro deveria estar acontecendo somente em março ou abril. Pode ser somente um adiantamento da sazonalidade e, se tivermos um adiantamento de frentes frias também, essa sazonalidade vai terminar mais cedo. Só que, se isso prevalecer (calor intenso e chuvas), teremos dois meses a mais nesse cenário”, afirma Caldeira.
HISTÓRICO
O fato de a capital não registrar grande epidemia de dengue desde 2015 também ajuda a explicar a alta de casos, de acordo com o virologista Maurício Nogueira, professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto. “As epidemias surgem, em média, a cada três ou quatro anos. Costumam vir quando muda o sorotipo ou a linhagem circulante do vírus”, explica. Entre 2018 e 2019, uma nova linhagem do sorotipo 2 da dengue, associado a quadros de maior gravidade, entrou no Brasil e pode levar à alta de casos em algumas localidades. “Ele não atingiu grandes capitais, mas, quando atingir, deverá causar grandes epidemias”, diz.
De acordo com Caldeira, da Vigilância da capital paulista, até agora mais de 90% dos casos de dengue registrados na cidade são do sorotipo 1, o mais comum no Brasil.
De acordo com Caldeira, algumas medidas vem sendo tomadas desde o ano passado pela Prefeitura. Pela primeira vez, diz ele, a administração municipal internalizou o processo de compra de inseticida usado nos fumacês, dobrou o número de equipamentos usados para aplicação do produto (nebulizadores) e ampliou o número de servidores que atuam nas ações de prevenção e combate ao mosquito. De acordo com a secretaria, foram realizadas em 2023 mais de 623 mil ações de prevenção ao Aedes aegypti, contando 209.231 visitas casa a casa, 6.693 vistorias a imóveis especiais e pontos estratégicos, e 378.847 ações de bloqueios de criadouros e nebulizações, entre outras atividades.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.