A Polícia Civil divulgou na manhã desta terça-feira (1º) novas informações sobre o crime bárbaro registrado no último dia 23 de junho, em Itaperuna, no Noroeste Fluminense, que chocou a região e ganhou repercussão nacional. O caso envolve um adolescente de 14 anos que confessou ter assassinado os pais e o irmão de três anos, com o suposto apoio da namorada, uma adolescente de 15 anos, moradora de Água Boa, no Estado do Mato Grosso.
Em coletiva de imprensa realizada na 6ª Região Integrada de Segurança Pública (RISP), em Campos dos Goytacazes, o delegado titular da 143ª Delegacia de Polícia de Itaperuna, Carlos Augusto Guimarães, e a delegada do 6º Departamento de Polícia de Área (DPA), Natália Patrão, detalharam como o crime foi planejado e executado.
Segundo o delegado Carlos Augusto, durante as investigações foi descoberto que o casal chegou a cogitar matar também a avó paterna do garoto e a mãe da adolescente, para que os dois pudessem ficar juntos. “Eles abortaram a ideia, mas havia conversas entre os dois para que ele matasse a avó paterna e ela matasse a mãe. No planejamento, o irmão mais novo seria poupado, mas o jovem decidiu matá-lo durante o crime contra os pais”, relatou.
Vizinhos teriam relatado informalmente aos policiais que ouviram disparos na madrugada do crime, mas, por ser uma área rural, cercada de matas, não conseguiram perceber que os tiros vinham de dentro da residência.
Ainda de acordo com o delegado, mesmo com 23 anos de carreira, o caso chamou a atenção pela crueldade. “Nós buscamos ser o mais profissionais possível, mas toda essa história, com tudo que descobrimos durante as investigações, nos chocou muito”, afirmou.
O adolescente de 14 anos foi apreendido e encaminhado ao Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase) na última sexta-feira (27). Já a adolescente de 15 anos, apontada como cúmplice virtual, foi apreendida nessa segunda-feira (30) pela Polícia Civil no Mato Grosso. Ela nega ter participado diretamente, mas admitiu saber do plano de matar a família.
Ambos cumprem agora internação provisória de 45 dias, que poderá ser prorrogada por decisão judicial. Pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o tempo máximo de internação para menores infratores é de três anos. Assim, o adolescente poderá deixar o sistema ainda menor de idade, enquanto a garota, caso cumpra pena máxima, deixaria a internação já aos 18 anos.
Durante a coletiva, a delegada Natália Patrão fez um alerta para pais e responsáveis sobre os riscos do ambiente virtual, destacando o papel das redes sociais e de jogos violentos como facilitadores de comportamentos extremos. “O ambiente virtual dá palco à violência e a normaliza. Há pais que equipam os quartos dos filhos com computadores de última geração, luzes, cadeiras confortáveis, mouses dinâmicos, contribuindo para o isolamento social e para a deficiência psíquica desses adolescentes. A missão dos pais é evitar ao máximo esse ambiente, e não contribuir para que os filhos mergulhem cada vez mais nesse mundo”, alertou.
Natália também destacou a expansão desse tipo de crime: “Raramente víamos situações assim há dez, quinze anos. Agora, vemos uma mudança com a arquitetura das redes sociais, as bolhas de algoritmos e a violência nos jogos cada vez mais real, o que facilita o aliciamento de crianças e adolescentes.”