SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Brasil registra uma alta de casos de febre oropouche. Foram 3.354 confirmados neste ano, de acordo com informe semanal do Ministério da Saúde, que contabilizou dados até a última terça-feira (9).
Na semana epidemiológica anterior, com dados até o dia 2 de abril, havia registro de 3.320 exames detectáveis. O número também já é o quádruplo dos 832 casos registrados em todo o ano de 2023.
De acordo com o Ministério da Saúde, houve um aumento na detecção de casos da doença a partir de 2023 nos estados da região amazônica – onde a febre é considerada endêmica – devido à descentralização do diagnóstico laboratorial de biologia molecular detectável para o vírus, com testagens disponíveis em locais que não estavam antes.
A febre oropouche é uma zoonose causada pelo vírus oropouche, detectado no Brasil na década de 1960. Desde então, casos isolados e surtos já foram relatados.
A doença é transmitida aos seres humanos principalmente pela picada do Culicoides paraensis conhecido como maruim ou mosquito-pólvora, inseto que tem um ciclo silvestre e um ciclo urbano.
Do total deste ano, 2.538 dos casos são em residentes dos Amazonas, seguidos por Rondônia (574), Acre (108), Pará (29) e Roraima (18).
Fora da região Norte, os estados em que mais houve registros da doença são Bahia (31), Mato Grosso (11), São Paulo (7) e Rio de Janeiro (6), de acordo com o Ministério da Saúde. A pasta trabalha com a possibilidade da maior parte dos locais de infecção terem sido na região amazônica.
Apesar dos casos registrados fora da região amazônica, ainda não há a possibilidade de um surto fora da região, diz o pesquisador da Fiocruz, Rivaldo Venâncio. Ao menos por enquanto.
“Como o vetor existe em todo o Brasil, a probabilidade, do ponto de vista teórico, que daqui a uns anos isso venha a ser um problema para várias localidades do país é razoável”, afirma.
Diferenças entre dengue e febre oropouche
Tanto a dengue quanto a febre oropouche são arboviroses, ou seja, transmitidas por artrópodes. Segundo Rivaldo Venâncio, pesquisador da Fiocruz, as mudanças climáticas podem ter sido o motivo para o aumento de ambas.
No ciclo silvestre do inseto transmissor da oropouche, bichos-preguiça e primatas não-humanos (e possivelmente aves silvestres e roedores) atuam como hospedeiro. No ciclo urbano, o homem é o hospedeiro principal. Eventualmente, o mosquito Culex quinquefasciatus pode transmitir o vírus em ambientes urbanos. Já no caso da dengue, o vetor é o mosquito Aedes aegypti. Há uma diferença primária entre a reprodução dos dois transmissores.
“O Aedes aegypti procria na água parada. Enquanto isso, o Culicoides paraensis se reproduz na matéria orgânica, em locais como folhas e frutas em decomposição”, afirma o pesquisador.
Quanto aos aspectos clínicos, os sintomas das duas doenças são similares. Os pacientes relatam febre, dor de cabeça, dor muscular e articular. Podem ter ainda tontura, náuseas e vômitos nos dois casos.