Trump ataca Biden em discurso: ‘tentaram tirar minha vida’

JULIA CHAIB E VICTOR LACOMBE
WASHINGTON, SP E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Donald J. Trump, 78, tomou posse nesta segunda-feira (20) como o 47º presidente dos Estados Unidos, dizendo em seu primeiro discurso que vai declarar uma emergência nacional na fronteira com o México para combater a imigração ilegal.

 

“A era de ouro da América começa agora”, disse Trump em um discurso repleto de ataques indiretos ao seu antecessor, Joe Biden, presente na cerimônia. “Daqui em diante, nosso país vai florescer e ser respeitado em todo o mundo. Não permitiremos que tirem vantagem de nós novamente. Em todos os dias do meu governo, colocarei os EUA em primeiro lugar.”

“Aquele que desejam interromper nossa causa tentaram me aprisionar e até mesmo tirar minha vida”, disse, relembrando a tentativa de assassinato que sofreu durante a campanha e o que sempre chamou de caça às bruxas em referência às acusações pelas quais responde na Justiça.

“Mas minha vida foi salva por uma razão. Fui salvo por Deus para que eu pudesse tornar a América grande novamente”, disse, sob fortes aplausos dos presentes.

“Não esqueceremos nossa Constituição e não esqueceremos nosso Deus”, disse Trump. “Voltaremos a ser o país da indústria e temos algo que nenhum país jamais terá: as maiores reservas de gás e petróleo do mundo -e nós vamos usá-las”, enfatizou o presidente, prometendo derrubar medidas de combate à mudança climática de seu antecessor.

O republicano também prometeu “acabar com a censura e restaurar a livre expressão” nos EUA, em provável referência ao discurso do bilionário Elon Musk, agora também um membro do governo, e de outras figuras do trumpismo.

“Como em 2017, vamos erguer as Forças Armadas mais poderosas do mundo, cujo sucesso será medido não apenas nas batalhas que vencemos, mas nas guerras que encerramos e, talvez mais importante, nas guerras nas quais não nos envolveremos”, disse Trump, reforçando sua posição isolacionista. “Meu maior legado será o de um pacificador e unificador.”

Trump também prometeu, como havia dito antes, mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América e voltou a dizer que o Canal do Panamá deveria pertencer aos EUA novamente, acusando a China de ter controle demais sobre a via marítima.

“Nos últimos anos, nosso país sofreu como nunca antes, mas construiremos um novo país. Os EUA serão respeitados novamente, admirados novamente. Seremos prósperos, seremos orgulhosos, seremos fortes e venceremos como nunca antes”, afirmou.

“Não seremos conquistados, intimidados, e não falharemos. Daqui para frente, os EUA serão um país livre, soberano e independente. Nada estará em nosso caminho, pois somos americanos, o futuro é nosso. Nossa era de ouro começa aqui. Obrigado, e que Deus abençoe a América”, disse no encerramento de sua fala.

O discurso aconteceu em uma sessão fechada no Capitólio, devido ao frio intenso em Washington -foi a 3ª vez na história que a cerimônia não foi ao ar livre por causa do clima extremo.

Antes do discurso, o republicano jurou sobre duas Bíblias. “Eu juro solenemente que executarei fielmente o cargo de presidente dos EUA e, da melhor forma possível, preservarei, protegerei e defenderei a Constituição americana”, declarou, conforme determinado pela Constituição.

Uma das Bíblias usadas foi dada a ele pela mãe em 1955, para marcar a sua formatura na Escola Primária da Igreja Presbiteriana Primeira, em Nova York.
A outra escritura era a Bíblia de Abraham Lincoln, usada pela primeira vez pelo 16º presidente dos Estados Unidos durante a posse, em 1861. Desde então, ela foi usada três vezes: duas pelo ex-presidente Barack Obama (2009-2017), e uma pelo próprio Trump, em 2017. A Bíblia faz parte de coleção da Biblioteca do Congresso.

Ao todo, a cerimônia contou com discursos de cinco líderes religiosos: dois católicos, dois protestantes e um rabino.

O agora ex-presidente Joe Biden participou da cerimônia, cumprindo uma tradição de o líder cessante estar presente no ato que confirma a entrega do cargo para o sucessor. Isso marca uma diferença para 2021, quando Trump se recusou a admitir a derrota para o democrata e faltou ao evento.

O discurso foi acompanhado por cerca de 600 pessoas no Capitólio. Entre elas um grupo poderoso, o de bilionários do Vale do Silício -que incluiu o dono do X, Musk, o da Meta, Mark Zuckerberg, e o fundador da Amazon, Jeff Bezos. O conjunto de empresários foi apontado pelo presidente Biden como uma “oligarquia de não eleitos” no poder, algo preocupante segundo o democrata.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi convidado, mas não pode ir porque não teve o passaporte liberado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro estão nos EUA, mas não puderam acompanhar a cerimônia de dentro do Capitólio.

Boa parte dos convidados iniciais para a cerimônia que ocorreria a céu aberto em uma das entradas do Congresso ficou de fora. Os planos de Trump mudaram na sexta (17), o que levou a organização a repensar todo o esquema da posse.

Pessoas que doaram valores elevados a Trump não puderam acompanhar a cerimônia presencialmente. Foram priorizados no evento parlamentares e altas autoridades, como o presidente da Argentina, Javier Milei.

O convite a um chefe de Estado também quebra uma tradição, já que esses líderes não costumam ser chamados para a posse. Do lado brasileiro, a cerimônia foi acompanhada pela embaixadora Maria Luiza Viotti.

A maioria das pessoas acompanhou os eventos da cerimônia no ginásio Capital One Arena, que tem capacidade para cerca de 20 mil pessoas.
A equipe de Trump transferiu o desfile de carro que ele faria pela cidade com o vice-presidente J. D. Vance para um discurso no local.

Trump chega à Casa Branca com uma maioria, ainda que apertada, tanto na Câmara como no Senado. Tem em suas mãos também um Partido Republicano que agora lidera e que no seu último mandato era repleto de desconfianças com seu nome.

O presidente ainda montou um time de aliados fiéis para compor o seu gabinete. As decisões serão tomadas sob medida para garantir que ele consiga aprovar no Congresso as medidas que propôs.

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