O presidente Luiz Inácio Lula da Silva buscou passar uma mensagem a agentes econômicos da China de que o Brasil é um país “amigo” e seguro em termos de investimentos, afirma o ex-embaixador em Pequim e conselheiro internacional do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), Marcos Caramuru.
“Isso tem um impacto sobre a visão dos investidores”, afirmou ele em entrevista ao Estadão, destacando que o mandatário brasileiro restabeleceu uma relação de confiança entre os países, após certa frieza que marcou o governo passado.
Como a relação diplomática com a China evoluiu com a chegada do atual líder Xi Jinping ao poder e com as transições de governo no Brasil?
Não houve um clima de confiança na relação Brasil-China no tempo do governo Bolsonaro, mas também não houve um dano visível. No final da gestão, chegaram a aprovar planos de trabalho de curto e longo prazo. A diferença que o Lula faz é estabelecer esse ambiente de confiança. Seja porque ele já tem um histórico de relação com os chineses, seja porque é de um partido de esquerda, seja porque exista agora de fato um interesse de colaborar e ampliar as relações.
A viagem de Lula acontece em meio às tensões entre Washington e Pequim. Lula já esteve nos EUA e agora questiona o uso do dólar como lastro para exportações. Quais mensagens passa em relação à política externa de seu governo?
Na relação com a China é importante passar mensagens para os agentes econômicos chineses. A primeira mensagem que ele passa é que o Brasil é um país amigo da China. Isso tem um impacto sobre a visão dos investidores. A segunda é que tem muitas perspectivas novas no relacionamento, como a construção da economia de baixo carbono, a cooperação ambiental. O Brasil tem biodiversidade, a China tem tecnologia. Em terceiro lugar, tenho percebido o interesse do Brasil de ampliar a cooperação tecnológica. A quarta, que Lula está dizendo, (é de abrir) novas alternativas de comércio bilateral, o uso de moedas nacionais. Estão se abrindo portas.
Tem se falado sobre as chances de Lula aderir ao cinturão chinês, uma iniciativa de cooperação econômica, política e cultural. O que significaria essa adesão e quais contrapartidas a China pode oferecer?
O fluxo geral de investimentos do Brasil e a estrutura de relações não vai mudar. Mas para as empresas, sobretudo as que operam em projetos subnacionais, essa adesão é mais fácil para operar quando busca financiamento e relação com o setor financeiro chinês. Dentro da China isso tem mensagem positiva e pode facilitar muito a ação com empresas em áreas de infraestrutura. Na realidade federal a China já investe muito, mas não porque assina acordos, mas porque participa de licitações. Quando você diz que o país é parte do Belt and Road (cinturão chinês), isso abre portas.
Essa movimentação do Brasil afeta a relação com os Estados Unidos?
Não creio. Os EUA estão sensíveis aos mínimos movimentos em relação à China. Mas o Brasil não vai deixar de fazer aproximação com a China. As nossas relações são muito fortes, é o maior parceiro comercial, tem um fluxo expressivo de investimentos. A sociedade brasileira tem posição genericamente positiva em relação à China. É um país que alcançou resultados bons nos últimos anos. É natural que uma economia como a do Brasil se relacione com essa realidade.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.