SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uns atrás dos outros, formando uma gigantesca coluna, dezenas de milhares de palestinos que viviam no norte da Faixa de Gaza antes da Guerra Israel-Hamas começaram a voltar para a área nesta segunda-feira (27).
Segundo os termos do cessar-fogo estabelecido entre as partes há dez dias, o retorno deveria ter tido início no domingo (26), quando o Exército israelense começaria a deixar o corredor de Netzarim, faixa de terra de 7 km que divide o norte e o sul do território palestino e que era controlada pelos militares.
Mas Tel Aviv adiou a desmobilização de suas tropas, sob a justificativa de que o Hamas, ao libertar militares em vez de civis no sábado (25), não cumprira o que havia sido previsto pelo acordo.
A ausência de uma civil em especial, Arbel Yehud, 29, sequestrada no kibutz de Nir Oz no mega-ataque do Hamas que deu origem ao conflito, gerou preocupação entre as autoridades, e o nome dela foi citado em um comunicado do gabinete do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, que explicava por que Netzarim não havia sido aberto.
O imbróglio foi resolvido depois que o grupo terrorista se comprometeu a entregar mais três reféns israelenses, incluindo Yehud, ainda esta semana. Com isso, seis reféns serão libertadas nos próximos dias em vez de três como previsto, sendo metade na quinta-feira (30) e metade no sábado (1º).
O escritório do premiê ainda afirmou que enfim recebeu dos terroristas uma lista identificando todos os 33 reféns que serão libertados na primeira fase do cessar-fogo e se eles estão vivos ou mortos, relação há muito aguardada pelo governo israelense.
Autoridades disseram acreditar que a maioria dos reféns, sete dos quais já foram soltos desde o início da trégua, está viva.
Registros da manhã desta segunda mostravam o retorno dos palestinos para o norte por uma estrada às margens do mar Mediterrâneo, a pé. Muitas carregavam sacolas com seus pertences nos ombros.
Gritos de alegria se espalharam pelos campos de deslocados quando os presentes ouviram a notícia de que a passagem para o norte tinha sido liberada. Estima-se que cerca de 650 mil pessoas tenham sido forçadas a deixar o norte de Gaza ao longo dos 15 meses do conflito. Muitos deles tiveram que se mudar várias vezes, à medida que Israel lançava campanhas militares em lugares que tinha designado previamente como zonas humanitárias.
Segundo testemunhas, o primeiro ponto de abertura da via abriu às 7h do horário local (2h em Brasília). Outro abriu cerca de três horas depois, este permitindo a entrada de veículos.
Todos os que se aglomeravam junto ao corredor de Netzarim estavam decididos a passar, mesmo esperando encontrar suas casas destruídas. Segundo o Hamas, os palestinos que voltam agora para o norte -onde fica a capital da faixa, a Cidade de Gaza- precisarão de ao menos 135 mil abrigos temporários enquanto tentam reconstruir suas vidas entre as ruínas.
O cessar-fogo estabelece que só pessoas desarmadas podem retornar ao norte. Segundo o Hamas, a polícia do Egito supervisionará os carros que se dirigem para o norte na estrada Salahuddin, principal via a ligar as duas partes do território, e os veículos serão submetidos a raios-X para detectar armas e explosivos.
A trégua entre Israel e Hamas teve início no último dia 19. O conflito foi desencadeado por um mega-ataque do Hamas ao sul de Israel em 7 de outubro de 2023, no qual os terroristas mataram 1.200 pessoas e sequestraram outras 251. A resposta militar israelense, por sua vez, matou 47 mil palestinos, segundo autoridades de saúde de Gaza, ligadas à facção.